
Para conseguir espaço no “mercado”, logo surgiram outros caminhões de gás, que, para superar Pour Elise eletrônica, acionavam uma buzina violenta e ensurdecedora, bem de manhã. Uma coisa que, por não achar outro termo, só pode ser chamada de perversa.
Uma vez o cara buzinou tão agressivamente, e tão cedo, que acordei com o coração aos pulos, de susto. Eram uns caminhões clandestinos. Levantei da cama e pela janela xinguei o cara; aquilo era uma agressão inominável. Como assim, ser arrancado da cama por um idiota daqueles e ainda ficar quieto? Xingado, o motorista desceu do caminhão e ainda proferiu ameaças ao meu portão. Chamei a polícia. Deu em nada, mas hoje esses caminhões não existem mais. Ainda tem o caminhãozinho da Ultragás e outras empresas, que também incomodam, mas menos do que os de outrora.
Tem aquele miserável carro da “pamonha de Piracicaba”, que anda meio raro, mas ainda incomoda, principalmente na periferia, embora não seja mais “de Piracicaba”.
Evangélicos vs. PSIU
E, na capital de São Paulo, o PSIU foi praticamente extinto por iniciativa do vereador Apolinário (DEM) com a conivência de situação e oposição, além do prefeito, para favorecer o lobby das igrejas evangélicas, que agora podem fazer seus rituais (nem vou adjetivar) com os decibéis que quiserem, e ninguém quer interferir para não perder seus votos. Não sou só eu, que posso ser acusado de esquerdozóide ou endemoniado, quem diz. Está, por exemplo, no blog do Milton Jung, num ótimo texto de Carlos Magno Gibrail, que você pode ler clicando aqui.
E a poluição sonora, essa mazela tão grave, continua também a se manifestar por outras formas, animal e humana.
A animal (que também é humana): poodlezinhos carentes, vira-latas neuróticos, pastores alemães deturpados e outras variações caninas, não importa quais, que à noite resolvem latir, ganir, chorar e até uivar, como se estivéssemos num mundo inferior de Dante, e você não consegue nem dormir, nem assistir a um filme. Agora mesmo, 01h47 desta quarta-feira, por coincidência, uma sinfonia de cães estúpidos está latindo. E todo mundo acha normal. (Nem todo mundo. Um dia, um rapaz, num boteco em Perdizes, bairro paulistano onde eu morava, estava inconformado: "vou dar chumbinho pruns cachorros, mano, não consigo mais dormir", disse, entre goladas de cerveja. Eu argumentei a favor da vida dos cães, mas entendi os motivos dele.)
A humana: alarmes de carros ou empresas, geralmente pequenas, que só servem para inundar o ar de barulho, já que alarmes não impedem que os carros desapareçam, e todo mundo acha normal, porque todo mundo já está louco.
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E essa nova modalidade de guardas-noturnos, que andam pelos bairros com suas motinhos dando apitinhos, pra avisar que estão ali, seja para proteger, seja para roubar? Podiam proteger e roubar, mas pelo menos que fosse em silêncio, catzo.
E como não ouvir as caçambas e aqueles caminhões cujas correntes relincham metálica, acintosamente no meio da madrugada, e se você reclama os caras ainda te ameaçam? Ou os guinchos? Ou as motos com escapamento aberto ou estourando, que agridem a sociedade incessante e impunemente, noite após noite.
E ainda querem me proibir de fumar meu cigarrinho. Dou minha palavra: no dia em que o estado combater e punir os responsáveis pela malfadada poluição sonora, eu paro de fumar.