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terça-feira, 1 de maio de 2012

O Espírito do Santos (parte 3 - Os Meninos da Vila)


CENTENÁRIO

No momento em que parcela da torcida santista protesta pela marcação das finais do Campeonato Paulista de 2012, contra o Guarani, para o estádio do Morumbi, e não na Vila Belmiro, me parece oportuno publicar a parte 3 da série O Espírito do Santos, em homenagem ao centenário do clube (os links dos outros posts estão abaixo deste texto). É que esta tem muito a ver com o estádio Cícero Pompeu de Toledo.

Com 29 gols, Juary foi o artilheiro do Paulistão de 1978/79

(Apenas um parênteses: dois exemplos recentes e significativos de público pífio do Peixe na Vila Belmiro: 1) Santos 1 x 0 Corinthians em 4/3/2012 - Público: 12.818. 2) Santos 0 x 0 Corinthians 10/08/2011 - Público: 9.714 pagantes. Desse ponto de vista, está mais do que justificada a marcação das finais no estádio do São Paulo. E, como divulgou sua assessoria de imprensa, o clube já conquistou cinco títulos paulistas no Cícero Pompeu de Toledo, um campeonato Brasileiro (2002) e ainda o primeiro título da história do Morumbi, ainda em 1969, após um 0 a 0 com o São Paulo – título que foi, aliás, o último tricampeonato paulista da história, feito que pode se repetir em 2012.)

Muito bonita, aliás, a homenagem feita pelo craque Neymar no último domingo, quando, ao marcar um dos gols na vitória de 3 a 1 sobre o São Paulo que levou o Peixe à final do campeonato, comemorou ao estilo Juary, em torno da bandeirinha de escanteio. Como diria Milan Kundera, Neymar tem a inspiração da imortalidade, pois não ignora nem a história nem o futuro.

Em 1978 eu tinha 17 anos e, na época do time dos Meninos da Vila, o Peixe disputava muitos clássicos no “maior estádio particular do mundo”, como se dizia na época. Eu não perdia um. E foi dando show atrás de show que o Alvinegro sagrou-se pela primeira vez campeão após a era Pelé. Como na última década, o time da Vila fez então do São Paulo freguês dentro de seu próprio campo em jogos decisivos.

Chico Formiga
Mas, voltando à parte 3 da série, o time de 1978 talvez tenha sido, dos quatro times que encarnam o Espírito do Santos (anos 50/60, 1978, 2002 e 2010/2011), aquele que eu mais vi jogar no campo. Não perdia chance de ver o infernal time de Clodoaldo, Pita, Ailton Lira, Nilton Batata, Juary e João Paulo, uma máquina de contra-ataques letais – muitas vezes acompanhado do meu irmão palmeirense Paulo. Por falar de irmão palmeirense, a asa negra histórica chamada Palmeiras se manifestou naquela temporada: como o time de Robinho e Diego, a esquadra de Nilton Batata, Juary e João Paulo não derrotou o Alviverde: foram três jogos na competição e três vitórias palmeirenses: 2 a 0 e duas vezes 2 a 1 (na era Pelé, o Peixe teria conquistado doze campeonatos paulistas seguidos se o Palmeiras não houvesse levantado a taça em 1959, 1963 e 1966).

Mas aquele grande time de 1978, infelizmente, entre os de que trato nesta série, foi o mais efêmero e desmontou-se rápido após o título paulista de 1978/79, num campeonato interminável com turno, returno, terceiro turno, mata-matas para decidir cada turno (a competição começou em 20 de agosto de 1978 e terminou em 28 de junho de 1979!). Em 1980, Ailton Lira foi para o São Paulo, enquanto Juary e Nilton Batata se transferiram para times mexicanos.

Seja como for, comandado por Chico Formiga, o Alvinegro daquela geração surpreendeu os rivais. Na época, o Campeonato Paulista era muito mais valorizado do que hoje.

Como viria a acontecer em 2002, ou 24 anos depois, o clube em 1978 estava sem recursos, sem ganhar um campeonato importante havia algum tempo (cinco anos depois do título dividido com a Portuguesa, o último da era Pelé) e teve de recorrer aos jovens de sua base.

Nilton Batata, Juary e João Paulo formando a linha de frente apoiada por um meio de campo magnífico com Clodoaldo e o craque Ailton Lira, o time contou ainda com o raro talento de um jovem meia canhoto vindo da base e que ficou na história: o camisa 10 Pita.

Como disse, vi muitos jogos desse time no Morumbi. E foi na casa do São Paulo que o Peixe vencia o Tricolor e dele fazia seu maior freguês na temporada. Foram sete clássicos San-São naquele Paulistão, com três vitórias do Alvinegro, duas do São Paulo (sendo que uma de nada valeu, pois o Santos foi campeão mesmo perdendo a partida) e dois empates.

Eu estava no campo quando o Alvinegro conquistou o Paulistão, de maneira não muito empolgante, pois justo na decisão o time do Jardim Leonor venceu por 2 a 0, resultado que ainda não lhe dava o título. Pelo regulamento (o Peixe tinha melhor campanha), precisava vencer também a prorrogação. Mas esta acabou 0 a 0. Era 28 de junho de 1978. Eu via pela primeira vez meu time ser campeão in loco, num estádio. Curiosamente, como meu filho Gabriel, que viu o time da Vila sair da fila em 2002, eu tinha então 18 anos.

Naquela quinta-feira, 28 de junho de 1979, desfalcado de Ailton Lira e João Paulo, além do zagueiro Joãozinho, o Santos de Chico Formiga atuou com Flávio; Nelsinho, Antonio Carlos, Neto (Fernando) e Gilberto Sorriso; Toninho Vieira, Zé Carlos e Pita (Rubens Feijão); Nilton Batata, Juary e Claudinho.

Leia também:

O Espírito do Santos (parte 1 - a geração de Neymar)

O Espírito do Santos (parte 2 - a geração de Diego e Robinho)

quinta-feira, 19 de abril de 2012

O Espírito do Santos (parte 2)


CENTENÁRIO



A geração de Diego e Robinho (2002-2004)


Entre os quatro times que incorporam o que chamo de Espírito do Santos (os de 1958, 1978, 2002 e 2010), o de 2002 vem a seguir ao de 2010-2011, de Neymar e Paulo Henrique Ganso, embora talvez seja tão importante quanto este.

A geração de Diego, Robinho, Elano, Renato, Léo e companhia resgatou a grandeza do time da Vila Belmiro, que desde 1984 não ganhava um título importante, apesar das conquistas de 1997 (Rio-São Paulo) e 1998 (Copa Conmebol). Em 2002, a torcida era mais ou menos dividida em três. Os mais jovens (não era meu caso), como meu filho, então com 18 anos, nunca tinham visto seu time ser campeão e cresceram sob chacotas e humilhações dos rivais. Os mais “experientes”, como eu, não tinham visto o time de Pelé jogar, mas haviam vibrado com os “meninos da Vila” de 1978 e viram os títulos paulistas de 1978 e 1984 – além da mítica equipe de 1995, vice-campeã brasileira. E a geração mais velha, que aprendera a amar o futebol do maior time do mundo, bicampeão mundial, mas não conseguia fugir ao fantasma do passado. 1978/1979, 1984 e 1995 foi tudo de relevante que o Santos conseguiu desde 1973, quando do último título paulista, dividido com a Portuguesa, com Pelé em campo.

(Um parênteses para o time de 1995, cujo símbolo era Giovanni, que protagonizou o antológico 5 a 2 contra o Fluminense, que para muitos santistas foi “o jogo da vida” – não para este escriba. Não fui ao estádio: era aniversário de minha mãe, Leila, que era santista e não está mais entre nós, e assisti na casa dela. Apesar da magia – efêmera –, esta geração é para mim bastante secundária na história, mesmo a recente. Não só pela perda do título no 1 a 1 com o Botafogo no Pacaembu, graças ao apito canalha do árbitro Márcio Rezende de Freitas. O Santos também colaborou: sem o importante volante Gallo, suspenso, o técnico Cabralzinho preferiu montar o time com apenas um volante – Carlinhos –, deixando o experiente Pintado no banco e um meio de campo vulnerável. E havia no elenco um oba-oba preocupante. Tudo isso me deixara com a pulga atrás da orelha. Na final, Giovanni perdeu vários gols inacreditáveis, que não costumava perder, entre os quais um no finzinho do primeiro tempo quase embaixo da trave. Foi quando um jovem torcedor de uns 18 anos nas arquibancadas olhou para mim e disse: “É, velho, quando começa assim...” Conheço santistas que veneram Giovanni, e outros não gostam dele, porque acham que amarelou na final. Não estou nem entre os que veneram o time e Giovanni, nem entre os que execram o jogador. Mas não tenho Giovanni como ídolo e acho que ele de fato tremeu naquele dia. Meu “ídolo” daquele time era o atacante Marcelo Passos. Atribuo a idolatria àquele time à seca e frustração dos torcedores mais jovens que nunca haviam comemorado um título. E assim fecho o parênteses sobre 1995.)

Horizonte sombrio

Em 2002, portanto, o Peixe vinha desse passado recente recheado frustrações e times medíocres ou, pior, horríveis , e 18 anos sem ganhar nada “importante”, após o estadual de 1984.

Quando começou a temporada de 2002, o Santos era considerado pela imprensa um candidato quase certo ao rebaixamento. Essa avaliação ganhou ainda mais consistência após o torneio Rio-São Paulo, em que o Alvinegro terminou em melancólica 9ª colocação e vivia grave crise.

A chegada do comandante

Para o Campeonato Brasileiro, o time tinha contratado Émerson Leão, que recusou a proposta do então presidente Marcelo Teixeira de contratar “medalhões” (política técnica e financeiramente fracassada que já vinha de anos passados). Leão disse que usaria os imberbes meninos que estavam surgindo na base do clube. Uma matéria do jornal O Estado de S. Paulo de 2003 contou como foi o ambiente no vestiário no dia em que Émerson Leão anunciou ao jovem elenco que eles é que seriam os homens do seu time. Os meninos se entreolhavam com expressões de incredulidade e felicidade, como jovens guerreiros que um experiente general eleva à categoria de soldados capazes de ganhar a guerra.

Elano, Renato e Paulo Almeida, entre outros, antes da chegada do novo treinador, eram atletas colocados entre os que o clube considerava dispensáveis. Leão montou a equipe com os jogadores fracassados que vinham jogando, misturado às jovens promessas. O time era: Júlio Sérgio (Fábio Costa); Maurinho, Alex, André Luiz e Léo; Paulo Almeida, Renato, Elano e Diego; Robinho e Alberto. O atacante William (também da escolinha) e o nem tão jovem meia Robert eram utilizados com freqüência.

E o futebol bonito, ofensivo, repleto de talento e arte apareceu. O goleiro titular durante quase todo o campeonato era Júlio Sérgio, que se contundiu na reta final da competição e deu lugar a Fábio Costa, que se recuperava de grave contusão, e voltou na hora certa, pois foi decisivo para a conquista do título.

O primeiro jogo que me marcou naquela campanha foi a memorável vitória de 4 a 2 sobre o Corinthians no Pacaembu, dia 3 de outubro de 2002, com dois gols de Alberto (um deles um golaço de semi-bicicleta) e dois de Elano. Duas semanas depois, o adversário seria o São Paulo no Morumbi. No dia 16, fui com meu filho Gabriel, então com 18 anos, assistir ao San-São.

Foi um grande jogo. O Santos saiu derrotado, 3 a 2, na partida marcada pelo episódio em que Diego comemorou um dos gols pulando sobre o escudo são-paulino. Mas, apesar da derrota, o sentimento era de satisfação: o time demonstrava que podia ir muito longe.

Em turno único, o campeonato classificava os oito primeiros para disputar os mata-matas. Depois de alguns vacilos nos últimos jogos, o Peixe se classificou na bacia das almas, em oitavo lugar, e pegaria o temível São Paulo, líder absoluto da competição. Definidos os confrontos, lembro que no boteco perto de casa, na esquina das ruas Prof. João Arruda e Cardoso de Almeida, em Perdizes, onde eu morava, um santista comentava desanimado que “não ia dar”. “Pegar o São Paulo... vai ser difícil”, comentou, olhando para a televisão ligada, ao que respondi: “Relaxa, santista. Vamos ganhar!”.

Arrogância são-paulina esbarra em Diego


Naquela semana, num bar em que havia alguns santistas e eu, além de vários são-paulinos à mesa, um deles, que tinha sido inclusive da diretoria do Tricolor, comentou, com a arrogância típica: “Santos? Eu quero jogar é com o Real Madrid”. Mas não deu outra. Na Vila, 3 a 1 para o Alvinegro, em partida memorável em que o São Paulo de Kaká escapou de uma goleada. Diego saiu de campo mancando e um velho são-paulino, parente de minha mulher Carmem, me disse ao telefone: “Esse 10... quem é? Saiu mancando, será que vai jogar na volta?” Eu respondi: “Espero que sim”. E ele, rindo: “Espero que não!”

No jogo de volta, que, junto com uma galera, ouvi pelo rádio, o time do Jardim Leonor precisava de 2 a 0 para ir à semifinal. Fez 1 a 0 logo de cara. E foi um dos jogos em que mais fiquei nervoso em toda minha vida. Mas, apesar da pressão impressionante, o São Paulo acabou levando a virada. Diego e Léo marcaram para o Santos. O grande Tricolor estava desclassificado e guardava sua arrogância no saco.

Depois de eliminar o Grêmio (3 a 0 e 0 a 1), a final era contra o terrível Corinthians, que, com Carlos Alberto Parreira, tinha um ótimo time.

A final com o Corinthians

No jogo de ida, o Peixe bateu o Timão por 2 a 0, em partida memorável de Diego. Na grande final, com melhor campanha, o Timão precisava de um resultado por dois gols de diferença para nos roubar o título. Antes da partida, Gabriel, com ansiedade imensa, comentou: “se o Santos não ganhar esse título, Deus não existe”.

E chegamos ao jogo da minha vida, perto do qual o de 1995 é uma pequena e apagada lembrança. Nada houve de tão grande para mim no futebol antes ou depois daquele maravilhoso 3 a 2 contra o Corinthians na final de 2002. Tive o privilégio de estar lá!, junto com Carmem e Gabriel. O Morumbi abarrotado e literalmente dividido ao meio nas arquibancadas, embora (os corintianos têm dificuldade em admitir isso) na numerada houvesse mais santistas, que formavam então, por isso, maioria.

Quando Robinho deu a histórica pedalada para cima de Rogério, que cometeu pênalti, lembro de Gabriel gritando: “Ele deu!, ele deu!”, pois a marcação de uma penalidade contra o Corinthians numa final parecia um milagre para um jovem acostumado a ver o time roubado. Gabriel, com seus 18 anos, nasceu em 1984, o ano em que o Peixe havia sido campeão pela última vez. Era da geração que crescera sendo humilhado pelos adversários, e nunca vira seu time ser campeão.

(Gols da final - dois últimos gols narrados por Oscar Ulisses)



Após o 1 a 0, a sensação era de que seria muito difícil que o adversário virasse para 3 a 1 e levasse a taça, até porque oferecia o contra-ataque ao um time mortal. Mas Diego, que fizera partida memorável no jogo de ida, saiu logo de cara, contundido.

No segundo tempo, o relógio não andava. Desde o início do jogo, Fábio Costa fazia uma partida milagrosa, com defesas espetaculares. Tenho para mim que, junto com Robinho, Fábio Costa foi o homem a quem os santistas devem agradecer o título. Horas pareciam se passar, mas o jogo não chegava nunca aos 30 minutos. Quando chegou, o Corinthians empatou. E virou aos 40. Lembro de um santista agachado na arquibancada, chorando e dizendo: “De novo não, de novo não!”, como se implorasse aos céus para os quais, porém, não olhava.

Mas aos 43, em jogada que começou com Elano, este serviu Robinho pela direita; o endiabrado e mirrado negrinho cruzou para Elano, que, já na área, mandou para as redes e saiu correndo, levantando a camiseta para mostrar, por baixo, a imagem de Nossa Senhora Aparecida. 2 a 2, mas o Corinthians estava derrotado. E nos estertores dessa partida que mais parecia uma ópera, como disse depois um jornalista, após nova espetacular jogada de Robinho, Léo pegou na entrada da área e fulminou o goleiro Doni. 3 a 2 e o Santos era campeão brasileiro de 2002.

Único time grande a sair de uma longa fila vencendo um campeonato brasileiro, o time de Fábio Costa, Diego, Robinho, Elano, Renato e companhia entrava para a história do futebol.

Em 2004, o elenco perdeu o zagueiro Alex, o volante Renato, o meia Diego e o treinador Émerson Leão, substituído por Vanderlei Luxembrugo, que, com a mesma base, reforçada com o atacante Deivid, sagrou-se campeão brasileiro, agora por pontos corridos.

Leia também: O Espírito do Santos - parte 1: a geração de Neymar e Paulo Henrique Ganso

O Espirito do santos - parte 3: Os Meninos da Vila

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Paulistão chega às quartas-de-final. Dos grandes, só o Palmeiras não é favorito. E a Lusa já era

Atualizado às 15h30 - 17/04/2012

Depois de 19 rodadas, a pré-temporada chamada Campeonato Paulista de futebol chega às quartas-de-final com oito classificados e os seguintes confrontos no próximo fim de semana:

Sábado
São Paulo (2°) x Bragantino (7°) - 18h30

Domingo
Corinthians (1° lugar) x Ponte Preta (8°) - 16 horas
Santos (3°) x Mogi Mirim (6°) - 16 horas
Guarani (4°) x Palmeiras (5°) - 18h30

Corinthians, São Paulo e Santos são francamente favoritos, mas a Macaca, o Braga e o Mogi podem surpreender. Isso por causa do regulamento sem-vergonha da competição: 19 rodadas que no final das contas valeram quase nada. Nas quartas, em um jogo só, os quatro mandantes só têm a vantagem de jogar em casa. Em caso de empate, a decisão vai para os pênaltis.

Na última rodada da fase de classificação, o líder Timão bateu a mesma Ponte Preta que pagará nas quartas por 2 a 1 em Campinas; o Tricolor perdeu do Linense de 2 a 1 em Lins; e o Santos meteu 5 a 0 na Catanduvense (rebaixada) na Vila Belmiro.

Dos muitos gols da rodada, reproduzo abaixo apenas o mais importante. O gol de Paulo Henrique Ganso, o primeiro dos cinco que o Peixe enfiou no time de Catanduva. Porque é um gol-símbolo: o gol do centenário, o primeiro após 100 anos de existência. Um golaço, como de propósito a incorporar a magia e o espírito do agora centenário Santos Futebol Clube.



O confronto Guarani x Palmeiras pelas quartas-de-final é o que não tem favorito, teoricamente. Mas as agruras eternas por que passa o Alviverde da capital não o credenciam a bater o Bugre em Campinas. Onde, aliás, no último 8 de abril, o time de Luiz Felipe Scolari perdeu do mesmo Guarani por 3 a 1 inapelavelmente. Scolari que foi hoje xingado de “burro” por parte da torcida palmeirense presente ao Pacaembu, onde o Verdão não passou de um sofrido 2 a 2 contra o já rebaixado e lanterna do campeonato Comercial. Detalhe: o Palmeiras teve 11 jogadores contra nove durante quase todo o segundo tempo. Outro detalhe: torci para o tradicional Comercial cair, pela violência com que esse timinho enfrentou o Santos na quarta-feira de cinzas.


E a Lusa…

A Portuguesa de Desportos mais uma vez mostra que sua tendência é se apequenar mais e mais, apesar de ter subido para a série A do Brasileiro. Cair para a segunda divisão do fraquíssimo Paulistão é demais. O time do Canindé vive uma decadência parece que inexorável. Precisava de um mero pontinho contra o Mirassol fora de casa, mas, como tomou 4 a 2 no lombo, acabou ficando atrás de XV de Piracicaba e Botafogo de Ribeirão Preto, caindo para a segundona do estadual.

A Lusa parece não ter chance de se manter na elite do Brasileirão em 2012.

sexta-feira, 13 de abril de 2012

O Espírito do Santos (parte 1)



CENTENÁRIO



Fotos: Ricardo Saibun (Neymar) e Reprodução
As quatro geraçôes: Juary, Pelé, Neymar e Robinho


Introdução e o time de Neymar

Neste sábado, 14 de abril, o Santos Futebol Clube completa 100 anos. Para marcar a data, escrevi um ensaio que publicarei aqui em quatro partes, a partir desta sexta-feira e nas próximas três quintas, dias 19 e 26 de abril e 3 de maio de 2012.

Um amigo aconselhou-me a registrar este trabalho, a partir de seu título (O Espírito do Santos), na Fundação Biblioteca Nacional. Estou seguindo esse conselho, já que no futuro talvez venha a publicá-lo em livro, possivelmente com um desenvolvimento maior.

Este ensaio não se propõe a falar da história do Santos F. C de um ponto de vista estatístico/historiográfico, tarefa importante mas pouco literária e não tão apaixonante. E, de resto, números e estatística não faltam - o que uma simples busca no Google demonstra.

A ideia é fazer um recorte. Algo que seja também simbólico e significativo, eu diria espiritual, na história do clube fundado em 14 de abril de 1912, segundo seu site na internet, “por iniciativa de três esportistas da Cidade (Francisco Raymundo Marques, Mário Ferraz de Campos e Argemiro de Souza Júnior).

Uso a palavra espírito deliberadamente, para caracterizar uma espécie de “reencarnação” desse futebol que se confunde com a arte, do futebol moleque, do futebol ousadia – termo este consagrado por Neymar.

Espírito que se manifestou essencialmente em quatro gerações santistas:

A dos anos 1960, de Pelé, Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe, mas que começou a se configurar em meados de 1950, exatamente em 1956, quando o menino Pelé chegou à Vila levado por Waldemar de Brito.

Que se manifestou em 1978, naquela esquadra conhecida pela mortal linha de frente com Nilton Batata, Juary e João Paulo, um time que também tinha no meio de campo feras como Ailton Lira, Clodoaldo e Pita, mas que me marcou menos porque foi um time muito efêmero, embora à época, adolescente, eu não perdesse os clássicos no Morumbi (onde o São Paulo era freguês) que disputavam os então chamados “meninos da Vila”.

Em 2002, com o time que levantou os Brasileiros de 2002, tirando o Alvinegro de uma fila de 18 anos sem um “título importante”, e 2004, e teve nos meninos Robinho e Diego os porta-estandartes a carregar a bandeira do espírito do Santos, embora Diego não tenha permanecido até o fim da temporada de 2004.

E que se manifesta agora, na geração de Neymar e Ganso, cuja história ainda está sendo contada.

As quatro gerações que representam o Espírito do Santos em toda sua história têm em comum um outro dado relevante: todas foram frutos de apostas na base, a alma do clube. Os símbolos negros dessas quatro gerações que construíram a lenda dos meninos da Vila são Pelé, Juary, Robinho e Neymar. Claro que os gigantes das conquistas foram muitos: Gilmar, Mauro Ramos de Oliveira, Ramos Delgado, Zito, Pepe, Clodoaldo, Edu, Cejas, Ailton Lira, Rodolfo Rodriguez, Elano, Fábio Costa, Renato e incontáveis outros. Citar nomes no caso do Santos é ser injusto, porque em qualquer lista sempre haverá muitos esquecidos. No caso do time de 1978, aliás, Juary nem era o principal jogador do time, cujos maiores craques estavam no meio de campo: Clodoaldo, Ailton Lira e Pita.


A geração do Rey

Foto: Ricardo Saibun/Santos FC


Se a geração de Pelé foi a mais importante, pois introduziu o clube definitivamente no rol dos grandes do país e do mundo, a de Neymar já alcança também níveis elevados. Existem curiosas coincidências na história do Santos. Por exemplo: lá, jogou o Rei. E depois de 48 anos, com os santistas já cansados da ladainha dos adversários (“ o Santos ganhou a Libertadores quando era com bola de capotão”, ouvi certa vez), eis que surge outro menino, Rey, que rima com mar e com futebol arte (como observou o santista Gabriel Megracko em comentários neste blog que não sei em que posts estão), que os invejosos, os colonizados e os intere$$ados (como um certo “Fenômeno”) querem ver na Europa. E eis que o time finalmente ganha a Libertadores, entrando na galeria aonde tantos queriam ter chegado e não chegaram, alcançando o tricampeonato, após os longínquos títulos de 1962 e 1963. Por isso a geração de Neymar (mas essencialmente ele) é grande: desfez um mito, um tabu: o de que a Libertadores não seria mais possível, para o Santos, depois de Pelé e da bola de capotão.

E por isso esta série (que não será publicada em ordem cronológica, mas segundo a importância que cada um dos quatro times teve para mim) começa com a geração bicampeã paulista (2010 e 2011), campeã da Copa do Brasil (2010) e da Libertadores (2011). Esse time vitorioso teve variações no elenco de 2010 para 2011. As saídas importantes foram a de André e Robinho do elenco de 2010 (quando o Santos era mais ofensivo, jogando a maioria das partidas com três atacantes) – Robinho que, voltando da Europa, foi, como é Léo, um remanescente da geração anterior. Nem Zé Eduardo nem, depois, Borges são tão bons na companhia de Neymar quanto foi André, das divisões de base. O ótimo Wesley também deixou o time mas foi substituído por Elano, que jogou bem no primeiro semestre de 2011, mas mal no segundo. No gol, ganho de qualidade, com a saída de Felipe para Rafael assumir o posto (o atual titular é um bom goleiro, mas muito longe das lendas Cejas – anos 1970 – e Rodolfo Rodriguez – anos 1980). Na lateral direita, com Danilo no lugar de Pará, houve melhora, mas Danilo foi vendido e o time ficou mais frágil na posição, com Fucile.

Reverência: da geração anterior, Robinho "engraxa" a
chuteira de Neymar – Foto: Ricardo Saibun/Santos FC
Essas foram as mudanças básicas do time campeão em 2010 com Dorival Júnior, que era avassalador no ataque (foi campeão estadual com 72 gols a favor e 31 contra) mas extremamente vulnerável na defesa, para a triunfante equipe de Muricy Ramalho, que não joga tão bonito mas é mais equilibrada. Um jogador dessa geração que não pode faltar aqui é o muito criticado Pará, hoje no Grêmio. Limitado, sim, mas com o qual boa parte dos santistas são ingratos, pois ele esteve em campo em todos os quatro títulos conquistados no período, sempre com seu aguerrimento e pronto para atuar nas duas laterais ou como volante.

Os jogos mais marcantes dessa geração, para mim, foram dois: a derrota de 3 a 2 para o Santo André em 2 de maio de 2010, quando, comandado por Paulo Henrique Ganso e reduzido a oito jogadores em campo contra dez do Ramalhão, o Peixe conquistou seu 18° título paulista. Esse vi pela TV. O outro – em que, com Carmem, Gabriel e Gisely, eu estava no Pacaembu – foi Santos 2 x 1 Peñarol, quando o Alvinegro levantou o tricampeonato da Libertadores, no inesquecível 22 de junho de 2011. Foram duas alegrias inigualáveis. Na final do Paulistão, com o coração quase saindo pela boca, abandonei o pessoal na sala no finalzinho e não vi a bola que o time do ABC mandou na trave nos estertores do espetáculo; na da Libertadores, a emoção de ser tricampeão da América parecia um sonho com o lindo mar branco tomando o Pacaembu.

Ganso e a final contra o Santo André

Perguntado por um repórter na semana do centenário qual foi o jogo mais marcante em sua carreira, Paulo Henrique Ganso respondeu de bate-pronto: a final do Paulista contra o Santo André em 2010. Não à toa. Além da partida magistral, ele protagonizou duas cenas inéditas e espetaculares: 1) já com oito em campo, o time era pressionado pelo Santo André, que se fizesse o quarto gol seria campeão. O camisa 10 bate um escanteio apenas encostando na bola, sai dela e fica esperando os adversários entenderem que ele estava apenas ganhando tempo e 2) no fim do jogo, o treinador resolveu tirar Ganso de campo para fechar o time (como se isso fosse possível com oito jogadores) e o meia se recusou a sair. Ele sabia que, segurando a bola, faria o tempo passar e o título viria. E assim foi.

O time campeão paulista de 2010: Felipe; Pará, Edu Dracena, Durval e Léo; Rodrigo Mancha, Arouca, Marquinhos e Paulo Henrique; Neymar (Roberto Brum) e Robinho (André) (Bruno Aguiar).

Capitão Edu Dracena levanta Libertadores
Foto: Ricardo Saibun
Em 22 de junho de 2011, com gols de Neymar e Danilo, o Santos bate o Peñarol do Uruguai e conquista finalmente o cobiçado título continental pela terceira vez. O time jogou com Rafael; Danilo, Edu Dracena, Durval e Léo (Alex Sandro); Adriano, Arouca, Elano e Paulo Henrique Ganso (Pará); Neymar e Zé Eduardo. Relembre aqui: Glorioso alvinegro praiano de Ganso e Neymar é tricampeão da Libertadores

A geração de Ganso e Neymar deve muito ao presidente Luis Álvaro de Oliveira Ribeiro, o popular Laor, que ao assumir em 2010 prometeu em uma entrevista que, a partir dali, só jogariam no Santos os que suassem a camisa, demonstrassem amor pela camisa ou pelo menos fossem dignos do grande Santos (no ano anterior, com Vanderlei Luxemburgo, o Peixe era um time sem alma). Com uma gestão profissional, o mandatário manteve o astro Neymar, resistindo ao assédio dos poderosos Chelsea, Real Madrid e Barcelona. Algo inédito no futebol brasileiro até então.

Leia também:

O Espírito do Santos - parte 2: A geração de Robinho e Diego

O Espirito do santos - parte 3: Os Meninos da Vila