Henry Fonda (1905–1982)
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Como Frank, no filme do diretor italiano Sergio Leone |
Na cena do duelo final do épico Era uma Vez no Oeste (Sergio Leone, 1968), os dois contendores, Frank (Henry Fonda) e Harmonica (Charles Bronson), estão se preparando para o último embate da vida de um ou outro. Bronson, que talvez tenha feito nesse filme sua única interpretação digna de nota na carreira, olha fixo ao homem com quem tem contas a acertar. Enquanto caminha, na cena impressionante, Bronson fixa o oponente com um olhar penetrante e parado, enquanto Frank/Fonda demonstra apenas com a expressão facial, e principalmente o olhar, que a dúvida assalta seu espírito. A certeza contra a dúvida precede o duelo de fato.
A cena em que culmina o maior western de todos os tempos é simbólica da grandeza de Henry Fonda. O personagem de Bronson evidentemente tinha de ter a certeza, mas não seria qualquer um que poderia interpretar a dúvida. Coube a Fonda, no filme do diretor italiano. A dúvida exige muito de um ator.
Era uma Vez no Oeste, que traz ainda Claudia Cardinale, Jason Robards e outros, vale a pena ser visto se você gosta de assistir a filmes motivado por atuações de grandes atores. Se não fosse suficiente o elenco estelar e a música maravilhosa de Ennio Morricone, Henry Fonda sozinho já bastaria como motivo para assistir a essa obra-prima que é o filme de Leone (post neste link: Favoritos do cinema (3): Era uma vez no Oeste).
Vi recentemente um filme que reúne nada menos do que Henry Fonda com Alfred Hitchcock: O Homem Errado (1956). O protagonista Manny Balestrero (Fonda), um homem pacato de classe média, é envolvido num crime que aparentemente não cometeu, e uma sucessão de acontecimentos kafkianos o vai enredando na trama. Curiosamente (porque é uma película pouco falada) é um dos melhores filmes que vi do mestre Hitchcock. Comparando o icônico Janela Indiscreta, por exemplo, com O Homem Errado, dois filmes do mesmo genial diretor inglês, é possível entender por que um ator pode ser a alma de um filme, enquanto outro apenas “lê” o roteiro.
Demorou muito tempo pra eu entender por que não gostei tanto assim de Janela Indiscreta (um filme intocável para a crítica), e enfim entendi que a atuação limitada e inexpressiva de James Stewart contribui decisivamente para isso, além, talvez, do esquematismo formal e frio que enfraquece a trama e o suspense. Enquanto este filme é prejudicado por esses fatores, em O Homem Errado Hitchcock acerta no ator (Fonda), enquanto no outro erra (Stweart). Assim é com Henry Fonda. Seus personagens ganham vida, enquanto os de outros atores não saem do papel (do roteiro).
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