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sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Contra o tédio, Woody Allen


Revi o lindo Manhattan (1979), de Woody Allen. Muitas coisas passam pela cabeça diante dessa obra-prima do cineasta norte-americano. Por exemplo, na era do politicamente correto que invade tudo, das mesas de bar ao futebol, dos sindicatos a roteiros de filmes, senti um prazer como um sentimento de desforra.

No início do filme, Isaac (Allen) conversa à mesa do bar com um cigarro na mão, dando gostosas baforadas. À mesa de um bar! Fiquei pensando no atual governador de São Paulo como presidente da República e numa manchete: “Medida Provisória proíbe filmes que incentivem o tabagismo”.

A trama vai se revelando, e você sabe que o personagem de Allen, ex-casado, tem caso com uma menina de 17 anos, Tracy, interpretada por Mariel Hemingway (neta do grande escritor). Não se trata de violação ao Estatuto da Criança e do Adolescente. É sempre bom ressalvar! Paixões assim às vezes acontecem.

Isaac – um escritor frustrado que trabalha como roteirista de programa de TV – foi casado com Jill (Meryl Streep), que o trocou por uma mulher, se assumiu lésbica, e escreve um livro para "descascar" seu ex-marido publicamente. O amigo de Isaac, Yale (Michael Murphy), casado, se apaixona por Mary (Diane Keaton), uma mulher insegura e cheia de conflitos interiores, que depois tem um caso com Isaac, mas assume que quer mesmo ficar com Yale.

Bom, a idéia não é contar o filme (coisa mais aborrecida). Woody Allen é um corrosivo cronista e crítico do american way of life, da religiosidade judaica (que ele conhece de perto, pois é judeu) e católica, dos clichês sociais e fílmicos. A hipocrisia ele rebate com a ironia. A ignorância, com o humor cáustico e inteligente.

Já ouvi alguém criticar Woddy Allen por realizar tantos filmes, um por ano, em média. Mas, como cronista que de fato é, ele trabalha num ritmo coerente com esse gênero. Ainda bem.

Em Manhattan, o amor de Allen por Nova York se configura em uma fotografia exuberante, ressaltada pela escolha que fez por usar o preto & branco. No fim do filme, o personagem interpretado pelo diretor corre para encontrar seu amor talvez perdido. Nessa sequência, Isaac corre em primeiro plano, enquanto, ao fundo, tendo o personagem como pretexto, a câmera vai filmando a cidade. Não sei se essa é uma citação intencional de Luis Buñuel, que, em A Bela da Tarde (La belle de jour), usa a mesma solução para filmar Paris tendo no primeiro plano Catherine Deneuve, numa das mais belas cenas que já vi. Ambas as cenas são epifanias, não há outra palavra.

Woody Allen, que tem em Ingmar Bergman seu maior mestre (como ele mesmo já afirmou, inclusive numa cena de Manhattan), é um gênio que me remete à frase que li no blog The Useless Generation, de meu amigo Gheirart: “Vista-se de bombas ou procure as ferramentas da arte!”

Atualizado às 15h58 de 13/12/2009