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sexta-feira, 26 de março de 2010

Digressão literária sobre o caso Isabella

Faltam algumas horas para ser conhecido o resultado do julgamento do casal Nardoni, acusado de matar a menina Isabella em março de 2008.

Acho meio irritantes os comentários-clichês e politicamente corretos do tipo “Isabellas morrem todos os dias, principalmente as negras, pobres” etc. Claro que o Brasil está muito longe de ter justiça social, que nossas crianças pobres são vítimas das mais bárbaras formas de violência e que o judiciário do país está muito longe de ser justo, com o perdão do pleonasmo.

Mas a discussão de um crime como o que vitimou a menina Isabella é apaixonante. Não há como negar. E não é apenas produto do “espetáculo midiático”. O embate de argumentos entre promotoria e defesa, os mistérios, as supostas motivações dos assassinos ou suspeitos, a imaginação que perpassa tanto nossas (pelo menos minhas) reflexões como as discussões sobre o assassinato, tudo isso é muito sedutor ao espírito.

Se não fosse, Dostoiévski, por exemplo, não teria se debruçado sobre o crime em suas duas maiores obras-primas, Crime e Castigo e Os Irmãos Karamázov. Há muitos outros exemplos de artistas e pensadores que focaram o tema. Michel Foucault, com o impressionante Eu, Pierre Rivière, que degolei minha mãe, minha irmã e meu irmão, que é o estudo psiquiátrico e judicial, documentado, de um caso ocorrido na primeira metade do século XIX, na França.

Norman Mailer trata do tema crime mas não entra em implicações jurídicas, com seus bons Um Sonho Americano e Os Machões não Dançam, que retratam, como talvez dissesse Paulo Francis?, a podridão da burguesia americana.

Entre incontáveis filmes que enfocam este que é um tema duplo, assassinato/julgamento (ou justiça), sempre me ocorre o francês A Isca (L'appât – 1995), do diretor Bertrand Tavernier. (Observação: há um outro filme chamado A Isca, americano. Enlatado. Eu falo do francês). É a história de uma menina de 18 anos que, querendo juntrar dinheiro para viajar aos Estados Unidos, cria com o namorado um golpe em que ela serve de isca para seduzir executivos, que são levados a uma armadilha, assaltados e... Aparece o assassinato, o inquérito. Vale a pena assistir.

Mas enfim, viagens à parte, voltando ao caso Isabella, concordo com Ricardo Kotscho, que falou em seu blog: “não conheço ninguém, a não ser os advogados da defesa e a família dos acusados, que ainda tenha alguma dúvida sobre a responsabilidade de Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá pela morte de Isabella”.

Eu penso que a decisão do júri só não será pela condenação se uma distorção der maioria à defesa. O júri é polêmico, como instituição, porque é influenciável pela emoção. Se os aspectos técnicos, perícia, produção de provas e os argumentos irrefutáveis da promotoria prevalecerem, não há como absolver Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá.

Só se, como no conto Os Crimes da Rua Morgue, de Edgar Allan Poe, o assassino for um macaco.