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domingo, 5 de março de 2017

Leonardo Barreto: "Congresso não encontraria presidente mais vassalo do que Temer"



Gosto do termo vassalo, utilizado pelo cientista político Leonardo Barreto (da UnB), para definir a relação de Michel Temer com o Congresso Nacional. O Termo é extremamente bem colocado:

"(...) dificilmente o Congresso encontraria um presidente que fosse mais vassalo do Congresso do que o Temer. É um presidente que presta muita vassalagem ao Congresso, o tempo inteiro."

Algumas passagens da entrevista que fiz com Barreto (íntegra em link abaixo) para a RBA:

"Esse é um governo que para continuar operando tem que aprovar a agenda econômica, é uma questão de vida ou morte para eles. Eles foram empossados para isso, para executar uma agenda econômica. Mas, por outro lado, é um governo que não tem insensibilidade política. Se ele vê a resistência (contra a reforma da Previdência) aumentar e essa resistência se transformar num 'Fora, Temer', acho que ele abre mão, por algo como uma CPMF da Previdência, por exemplo. Se tem uma coisa que esses caras do PMDB sabem fazer é sobreviver politicamente (...).A resistência no Congresso já tem uma sinalização, eles vão insistir, mas se perceberem que vai haver um tensionamento na sociedade a ponto de uma ruptura, eles recuam."

"(...) a reforma da Previdência vem num momento em que a pressão por causa da Lava Jato aumenta – o STF liberando Valdir Raupp para julgamento, o Luís Roberto Barroso sugerindo uma mudança de interpretação do foro privilegiado, além do Janot anunciando que vai soltar uma segunda lista na semana que vem. Com tudo isso você soma elementos para uma combustão e capacidade explosiva gigante. Acho que o Congresso vai fazer uma coisa – que não deixa de ser uma chantagem também contra a sociedade: vai dizer que só vota medidas econômicas se tiverem um salvo-conduto. Não à toa, o Temer encarou o desgaste gigante de nomear o Alexandre de Moraes no STF, para ter algum tipo de controle. Num cálculo puramente político, Temer nunca bancaria o Alexandre de Moraes. Mas ele banca porque precisa oferecer alguma coisa para esse pessoal da auto-salvação, inclusive seus aliados e talvez ele mesmo."

"(...) qual seria o limite da paciência das pessoas para elas voltarem à rua? Eu acho que estamos sempre muito próximos desse limite. Se você lembrar, a gente já teve manifestação, o pessoal pediu 'Fora Maia', 'Fora Renan', mas era um prenúncio. A gente está o tempo todo com o copo bastante cheio, esperando a gota. Podem ser as delações da Odebrecht? Como está tudo muito à flor da pele, às vezes um evento menor pode acordar o monstro e acordar a rua. Dentro do sistema político não há nenhuma força que tenha interesse e seja capaz de motivar um novo processo de ruptura política. A única força capaz de fazer isso é a rua."

Aqui, a íntegra da entrevista: Congresso não encontraria presidente mais vassalo do que Temer, diz cientista político

sábado, 18 de junho de 2016

O fenômeno Dilma



Roberto Stuckert Filho/PR
Dilma na sexta 17, na Universidade Federal de Pernambuco

A história costuma ser irônica. Mais uma prova disso é que, duramente criticada inclusive por seus pares de PT, Dilma Rousseff pode ser a via pela qual o próprio PT pode vir a se recuperar como partido, pelo menos em parte. Com toda a crise que levou o Brasil a uma das fases mais obscuras de sua história, Dilma tem protagonizado nas últimas semanas um fenômeno extremamente interessante: sua popularidade cresce a olhos vistos. Mais do que isso: ela está  superando a popularidade que poucos (ou ninguém) esperavam que poderia ter.

Dilma merece algumas das críticas já conhecidas, como o caráter centralizador de seus governos e a mediocridade de seus ministros, com algumas exceções, assim como ter entregado alguns de seus ministérios a próceres da direita - e Gilberto Kassab é o mais acabado exemplo. Mas tenho visto de maneira diferente a crítica sobre sua incapacidade de "fazer política", que, se é procedente até certo ponto, deve ser relativizada. Seria incompetência "não saber negociar" com uma geração de políticos e um Congresso que são a própria materialização da corrupção e do ideário da direita?

A própria Dilma questionou essa crítica, que se faz a ela diuturnamente (e que eu mesmo já fiz), na entrevista a Luis Nassif na segunda-feira 13 (leia aqui). “Atribuía-se a mim (o problema de) não querer negociar. Mas não tem negociação possível com certo tipo de prática”, disse, em referência a Eduardo Cunha e seu bando.

Esse "problema" ou "defeito" de Dilma é, antes, uma virtude.

Minha imaginação me leva, conduzido por Platão, a uma situação. Imaginemos que o Brasil fosse hoje um país que, com todas as suas características (a diversidade principalmente), estivesse no patamar de uma nação desenvolvida e politicamente respeitada, na qual as oligarquias espúrias tivessem sido reduzidas a sombras da história e não mais influenciassem a vida do país.

Nessa hipótese platônica, governando um país que tivesse superado sua triste vocação a colônia, Dilma Rousseff seria uma presidente e líder sofisticada. Que poderia sofrer derrotas e conquistar vitórias políticas, mas não precisaria se submeter à canalha politicagem brasileira. Sem precisar "negociar" com chefes de gangs, Dilma apenas governaria.

Embora acusada de ser uma tecnocrata, ela poderia tocar seus projetos para o pré-sal, por exemplo, o maior tesouro da indústria do petróleo descoberto neste século, e um dos principais motivos do golpe que, como se sabe, tem a mão do imperialismo (leia aqui). Digo que o pré-sal é um dos principais motivos do golpe porque não é o único: nossa água é outro.

Por falar em império, lembremos Barack Obama, para fazer uma comparação. O presidente dos Estados Unidos teve muitas dificuldades a partir de novembro de 2014, quando passou a ter minoria no Congresso. Mas a democracia norte-americana é estável e Obama não ter maioria não significa golpe. Muito longe disso. No Brasil, afrontar o mercado financeiro (como Dilma fez ao rebaixar a taxa de juros Selic entre 2012 e 2013) e se recusar a negociar com bandidos no Congresso foram gasolina no fogo do golpismo.

Por incrível que pareça, Dilma já é um passo à frente do petismo lulista. Com todos os seus erros, ela tem incendiado uma militância até outro dia adormecida, o que parecia absurdo um ano atrás, quando era considerada traidora do programa de governo com o qual se elegeu, e graças à militância do movimento social que, diga-se, deu um caráter muito além do PT a sua eleição.

Acho importante lembrar que, no contexto do apodrecido presidencialismo de coalizão brasileiro, se Dilma é responsabilizada por ser politicamente incompetente, não foi ela, mas Lula, quem fechou acordo com o PMDB de Temer e Sarney.

Não foi certamente à toa que o físico Rogério Cezar de Cerqueira Leite, um mestre insuspeito, em artigo publicado na Folha ontem, 17, comparou Dilma Rousseff a Joana d'Arc (leia aqui).


quarta-feira, 30 de março de 2016

Ciro Gomes sobre Michel Temer: "anão moral, traidor e parceiro de tudo que não presta"


Valter Campanato/Agência Brasil

Ministro da Integração Nacional do governo Lula, ex-governador do Ceará e atualmente no PDT, Ciro Gomes divulgou a seguinte nota em sua página no Facebook:

"Acabo de assistir a uma das cenas mais repugnantes de minha já longa vida política. Em apenas três minutos o PMDB anunciou o abandono do governo da presidente Dilma após 5 anos de fisiologia e roubalheira. Trata-se de capítulo que deve encher de vergonha todo e qualquer cidadão ou cidadã deste sofrido País!

"Como anão moral, traidor e parceiro intimo de tudo que não presta, à frente deste capítulo do golpe de estado em marcha no Brasil, Michel Temer e seu sócio Eduardo Cunha.
Levantemo-nos, povo brasileiro! VAI TER LUTA!"

terça-feira, 29 de março de 2016

Desembarque do PMDB do governo mostra que sistema político faliu


Anderson Riedel/Fotos Públicas


Publicada originalmente na RBA

O desembarque do PMDB do governo, oficializado na tarde de hoje (29), e todo o processo que culminou com esse ato, mostra, acima de tudo, que o sistema político brasileiro faliu, segundo analistas. O partido do vice-presidente da República, Michel Temer, que agora de fato assume a posição oposicionista já conhecida dos corredores e articulações, assumiu a posição concreta de apostar na crise e saciar seu interminável apetite pelo poder. O grande problema é que não há perspectivas de fim da crise.

"Tudo isso mostra que é o nosso sistema político-partidário que está falido. Ele foi corrompido pela mercantilização que tomou conta das campanhas eleitorais", diz Cândido Grzybowski, diretor do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase). "O que acho é que está se criando uma outra forma de crise, a crise dentro da crise, cujo desfecho é mais crise, e assim o país vai indo."

Para Grzybowski, não é novidade que o PMDB se tornou um partido que mantém o poder pelo poder e não é mais nem sombra da legenda de Ulysses Guimarães, que subsistiu até a Constituição de 1988. A crise ganhou, com a decisão do PMDB de sair do governo, um novo ingrediente: a presidente Dilma Rousseff tem agora um vice de oposição. A Constituição prevê esse quadro. Determina a Carta Magna: Temer continua no posto sendo parte do governo ou oposição.

O grande problema do governo Dilma, que hoje, no Congresso, principalmente com o desembarque do PMDB, enfrenta um processo de impeachment cada vez mais possível, tem um nome: Eduardo Cunha (PMDB-RJ), o presidente da Câmara dos Deputados. 

"O maior erro de articulação política do governo foi ter lançado candidato do próprio PT (Arlindo Chinaglia), em fevereiro de 2015. Está pagando um preço caríssimo por ter Eduardo Cunha na presidência da Câmara. Ele é um das figuras mais estranhas que já existiram na política brasileira, apesar de ser um político bem comum. Mas é o presidente da Câmara, eleito pelos pares", avalia o cientista político Humberto Dantas, coordenador do curso de pós-graduação da Fundação Escola de Sociologia e Política (Fespsp).

A aliança do governo com o PMDB, fechada ainda pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para conseguir governar no presidencialismo de coalizão, é considerada por muitos o erro primordial dos governos petistas. Mas, para Cândido Grzybowski, o problema ainda é o sistema político do país. "Na nossa realidade política não tinha outra saída. Mas o sistema transformou as campanhas políticas em campanhas de imagem, de disputa de mercado, de marqueteiros, com dinheiro dos quem não querem perder nada."

Para ele, esse quadro permite criar partido "às pencas, por quem quiser, mas não acabou com o cerne do sistema eleitoral criado por João Figueiredo, no fim da ditadura".

A íntegra da matéria da RBA está aqui.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

Liminar a favor de Lula e reeleição de Picciani no mesmo dia é demais para a mídia golpista


Quando você quer saber se há notícias positivas para o país, uma das maneiras mais eficientes de se conseguir essa informação é visitar colunas e blogs de gente como Josias de Souza. Hoje o país amanheceu com a notícia de que o conselheiro-relator Valter Shuenquener de Araújo, do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), decidira na noite anterior suspender o depoimento que o ex-presidente Lula e sua mulher, Marisa Letícia, dariam pela manhã, sobre o caso do Condomínio Solaris.


"64 neles", diz camiseta de manifestante em frente ao Fórum onde Lula não depôs

O aspecto positivo da notícia se revelava logo de cara no título do post do jornalista da Folha, publicado às 06:19 da manhã, que registrava seu inconformismo indisfarçado já no título: “Fuga de depoimento carboniza imagem de Lula”.

“Lula sempre foi visto pelos devotos que o seguem como um mito. Ao fugir dos questionamentos do promotor Cassio Conserino, a quem acusa de perseguição, portou-se como alguém que descobriu que também está sujeito à condição humana. Potencializou, de resto, a impressão de que não dispõe de uma defesa consistente”, vociferou o jornalista.

Para Josias de Souza, como para Ricardo Noblat e toda a inumerável lista de assemelhados, o desrespeito à presunção de inocência, ao direito de defesa, à garantia da imparcialidade da jurisdição e outros princípios constitucionais, fundamentais a uma nação sadia, de nada valem diante da urgência em devolver o país a seus verdadeiros donos, as oligarquias de que falava Leonel Brizola e, mais além, aos Estados Unidos da América, cujos interesses estão acima de tudo para essa oligarquia apátrida.

Assim como de nada vale para eles o manifesto de centenas de advogados e juristas importantes, divulgado em janeiro, no qual manifestaram “publicamente indignação e repúdio ao regime de supressão episódica de direitos e garantias que está contaminando o sistema de justiça do país”.

Josias de Souza, Ricardo Noblat e assemelhados são adeptos do jornalismo “imparcial”, aquele mesmo que aprendíamos na faculdade como sendo um dos princípios básicos da profissão, mas depois soubemos tratar-se de uma hipótese improvável.

“Na fase em que ainda tocava trombone sob o telhado de vidro, Lula se comportava como um homem que lambe o dedo depois de enfiá-lo num favo de mel”, continua Josias em seu irrefreável inconformismo diante de uma decisão que lhe tirou o doce da boca, ele que já esperava se lambuzar com o espetáculo midiático do depoimento de Lula que não houve, por enquanto.

Mas, acima de tudo, o que mais impressiona na passagem do parágrafo acima é o ódio manifesto nas palavras do blogueiro-jornalista da Folha. Um ódio verdadeiramente assustador, o mesmo que alimentou durante anos a horda de neofascistas que hoje atacam pessoas simplesmente pela cor da camisa ou da bandeira que essas pessoas usam.

Gustavo Lima/ Câmara dos Deputados
Cunha e oposição tiveram que engolir Picciani 

Mas o dia de quarta-feira (17) prosseguiu, e, como se não bastasse a liminar concedida pelo CNMP suspendendo o depoimento de Lula, eis que Leonardo Picciani, o candidato de Dilma Rousseff, venceu a disputa contra Hugo Motta, apoiado por Eduardo Cunha, e se manteve na liderança do PMDB na Câmara. Mais uma derrota que Eduardo Cunha sentiu como um soco no fígado desferido por um George Foreman.

Um líder de bancada tem inúmeras responsabilidades, como indicar os candidatos a presidente das comissões a que tem direito seu partido ou bloco, solicitar votação secreta, regime de prioridade para propostas, adiamento de votação de propostas em regime de urgência etc. É um aliado e tanto que Dilma continua a ter. Por isso, Josias de Souza mais uma vez exprime o seu ódio incontível: “Ao marchar de forma resoluta em direção à desagregação, o PMDB está apenas homenageando a sua índole”.

É demais, mesmo. Duas notícias boas para o governo no mesmo dia ninguém aguenta.

quinta-feira, 13 de agosto de 2015

No tabuleiro político, Eduardo Cunha é o bispo, que tem vida curta no xadrez




Está na Folha de S. Paulo online desta quinta-feira 13 a manifestação do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, sobre as manobras jurídicas (como se não bastassem as políticas) do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, do glorioso PMDB do Rio de Janeiro. Diz Janot:

"O inquérito investiga criminalmente a pessoa de Eduardo Cunha, que tem plenitude de meios para assegurar sua defesa em juízo e, como seria de se esperar, está representado por advogado. O investigado solicitou a intervenção da advocacia pública em seu favor, sob o parco disfarce do discurso da defesa de prerrogativa institucional. O que se tem, então, é um agravo em matéria criminal em que a Câmara dos Deputados figura como recorrente, mas cujo objeto só a Eduardo Cunha interessa (...)

"O agravo em questão evoca, em pleno século XXI, decantado vício de formação da sociedade brasileira: a confusão do público com o privado."

A matéria da Folha está aqui.

Mesmo quem não é familiarizado com termos jurídicos há de reconhecer nas palavras de Rodrigo Janot um cenário nebuloso para Cunha na seara jurídica. O cenário pode ficar ainda mais carregado de nuvens escuras para o presidente da Câmara (e aí já politicamente) se Renan Calheiros mantiver o acordo negociado com o Palácio do Planalto desde a semana passada. Nesse caso, o Senado presidido por Renan seria o freio às sandices de Cunha na Câmara. Porque seria Eduardo Cunha contra Renan, Michel Temer e o governo.

Luis Macedo/Câmara dos Deputados
Os próximos lances no tabuleiro vão definir o papel de Eduardo Cunha no xadrez político do primeiro ano do segundo mandato de Dilma Rousseff. Especificamente quanto a essa partida, acredito que terminará no final de 2015. Nela, penso eu, Cunha terá desempenhado o papel do traiçoeiro bispo.

Numa partida de xadrez (e quem joga só um pouquinho de xadrez sabe disso) o bispo normalmente tem vida curta, embora eficiente para golpes diagonais, que são muito perigosos. Mas tem menos abrangência do que o cavalo. Seja como for, a vida do bispo deve necessariamente ser mais curta do que a da torre, da rainha e do rei. Em alguns acasos, até mais curta do que a de alguns peões.

terça-feira, 21 de abril de 2015

30 anos depois da morte de Tancredo, Brasil de Aécio Neves ainda discute o golpismo udenista


Reprodução
Tancredo com o então jovem neto (materno) Aécio Neves

Em 21 de abril de 1985 morria Tancredo Neves. Nós que éramos jovens naquela época víamos o primeiro presidente civil, desde a implantação da ditadura em 1964, como uma esperança, apesar de Tancredo ter sido eleito num colégio eleitoral. Para alguns jovens de hoje – considerando os que nasceram a partir da década de 1980 –, dizer que Tancredo era uma esperança pode soar inexplicável, ou piegas.

Mas é preciso entender que o presidente que Tancredo sucederia era o general João Baptista Figueiredo, ex-chefe do SNI em governos anteriores, quando a tortura e o assassinato eram políticas justificáveis para manter o Estado de segurança nacional. Figueiredo foi presidente como prêmio por ter cumprido com eficiência seu papel no SNI.

Tínhamos vivido tempos obscuros. Eu não vivi a época da ditadura, graças a deus, mas um grande amigo meu, da geração anterior, viveu. Foi torturado etc, assim como outros que conheci depois. Mas até hoje esse meu amigo chamado José considera Tancredo uma importante presença na política brasileira. Um homem que foi ministro da Justiça e Negócios Interiores de Getúlio Vargas. E que, diz a lenda, foi um dos mais bravos resistentes contra o golpe udenista que levou Getúlio ao suicídio.

Morto Tancredo, assume Sarney, embora muitos, ou alguns, defendessem a posse de Ulysses Guimarães. José Sarney, justamente o líder maranhense cuja carreira política começou na esteira da morte de Getúlio Vargas (1954). Sarney era da UDN. Com a extinção desta em 1965, abraçou a Arena. Depois, o PDS.

Celio Azevedo/Senado Federal
Ulysses e Tancredo

Essas poucas linhas são pra dizer que 30 anos atrás, em 21 de abril de 1985, a barra estava pesada: com a morte de Tancredo, nessa data estranhamente simbólica, não sabíamos o que aconteceria. Atrás, era Figueiredo; na frente, Sarney. Estávamos perplexos, nós com nossos vinte e poucos anos, nossa fé no futuro e nossas dúvidas.

Havia teoria da conspiração na época, não pensem que isso é uma invenção contemporânea. Tancredo havia simplesmente morrido ou tinha sido assassinado? Como saber?, a gente se perguntava.

Curiosamente, Sarney fez um governo caótico, mas não impopular. Embora de maneira tosca, e apesar do caos econômico, com o Plano Cruzado ele conseguiu de certa maneira distribuir renda. O plano determinava o congelamento de preços, trazia ao cenário os “fiscais do Sarney”, introduzia antecipação do salário mínimo para incentivar o consumo. Enfim, um governo populista, mas não impopular.

Mas depois, sim, aí veio o caos, com Fernando Collor de Mello (1990), metaforicamente o Nero (imperador romano que governou de 54 até 68 d.C.) da história brasileira.

Foi desesperador. A primeira eleição para presidente no Brasil desde Jânio Quadros (eleito em 3 de outubro de 1960) colocou Collor no poder! Não era possível enxergar futuro para o Brasil.

Collor caiu e apareceu seu vice Itamar Franco, um político fisiológico, mas que não tinha, como Sarney, origem oligárquica e coronelista. Itamar era um pequeno-burguês, um engenheiro, começara no PTB de Vargas, partido que foi extinto em 1965 junto com a UDN. Itamar foi do MDB (depois PMDB), do PL, do PRN de Collor, depois voltou ao PMDB. Mas, para encurtar a história, Itamar fez um governo populista mais ou menos como o de Sarney. O Brasil da conciliação.

Depois veio Fernando Henrique Cardoso, que propôs implantar no Brasil o neoliberalismo de Margaret Thatcher e Ronald Reagan.

Depois veio Lula, depois Dilma (e aqui, ao invés de comentar, prefiro indicar a leitura de Os sentidos do lulismo, de André Singer – afinal, conhecer a história dá um pouco de trabalho, não é tão simples assim).

Estamos em 2015, 30 anos depois da morte de Tancredo Neves, e o Brasil ainda está discutindo golpe e golpismo, sob a batuta do neto (na linhagem materna) de Tancredo, Aécio Neves, personalidade que Milan Kundera diria que está construindo sua imortalidade risível.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

Fernando Haddad e Gabriel Chalita



Apesar de Fernando Haddad e Gabriel Chalita, novo secretário de Educação, desconversarem sobre os planos deles próprios e de PT e PMDB para as eleições municipais de 2016, e dizerem que essa discussão é para depois, quem foi à concorridíssima cerimônia de posse de Chalita pôde constatar a força e o significado político das articulações que levaram o peemedebista a assumir o posto no governo.

Cesar Ogata/SECOM-PMSP


Além de deputados, vereadores, secretários municipais e líderes de vários escalões dos dois partidos, estiveram presentes à cerimônia figuras como José Renato Nalini (presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo), dom Odilo Scherer (cardeal arcebispo de São Paulo), Alexandre Padilha (ex-ministro da Saúde), Lygia Fagundes Telles (a mais importante escritora brasileira viva), Alexandre de Moraes (secretário de Segurança Pública de Geraldo Alckmin), representantes da OAB e diversas entidades políticas e civis, entre outros.

O evento mostrou que a posse de Chalita – se não houver pedras no caminho – é, sim, o prenúncio de uma possível dobradinha na chapa para a eleição de 2016.

A chegada de Chalita ao governo faz parte da já lendária (!) estratégia que deve neutralizar grande parte do capital que Marta Suplicy teria se, fora do PT, conseguisse se bandear para o PMDB. Agora, se ela quiser ser candidata, terá de ser por um partido muito menor.

Mas ainda tem o fator Russomanno, que não será desprezível como candidatura de direita que tem muitos votos nas periferias da capital.

"Aqueles que buscarem divergência de pontos de vista entre mim e Chalita vão semear em solo infértil", disse Haddad, ao ser questionado sobre críticas murmuradas aqui e ali por petistas e outros inconformados com a nomeação de um ex-secretário de Alckmin.

Haddad lembrou a participação de Chalita nas eleições de 2010 e 2012, pra dizer: “Chalita é parceiro também na política, por que não dizer? Não vejo nenhuma razão para não agradecer mais uma vez o apoio que recebi no segundo turno de 2012, e o esforço que ele fez em 2010 para não permitir que teses obscurantistas dominassem o debate político da eleição presidencial. Elevou o padrão e o nível do debate”.

A lembrança de Haddad é pertinente. Com os 833 mil votos que conseguiu no primeiro turno de 2012, Chalita foi decisivo para a vitória do petista contra José Serra (PSDB). No segundo turno, o então candidato do PT venceu o tucano por uma diferença de 679 mil votos.

Antes, em 2010, Chalita, que é católico, deu declarações defendendo a então candidata Dilma Rousseff dos boatos espalhados pelo mesmo tucano Serra, segundo os quais Dilma era favorável ao aborto. “A tentativa de desconstruir pessoas com boatos é ruim. Dilma nunca disse ser a favor do aborto. Ela abordou o tema como uma questão de saúde pública”, afirmou Chalita na época à Folha de São Paulo, quando era membro do PSB.

Sobre o “boato” mais explorado, o da interferência de Lula no processo, me parece que Haddad demonstra nas entrelinhas que acredita de fato na construção de uma nova geração de políticos, ao dizer: “procuramos o presidente Lula e o presidente Michel Temer para apresentar a eles nosso ponto de vista sobre o rejuvenescimento da política, a necessidade de novos quadros para revitalizar o debate político sobre políticas públicas”.

Com isso, Haddad quer dizer a Lula que está na hora de o Brasil acreditar na nova geração.

sábado, 4 de outubro de 2014

Aécio Neves pode ter conseguido passagem ao segundo turno no debate da Globo







24 horas depois do confronto da Globo na quinta-feira, 2, após refletir e lembrar, durante o dia, dos embates desse que foi o melhor debate em muito tempo (incluindo os de eleições passadas), acho que, se tiver segundo turno, Aécio Neves pode ter conseguido ultrapassar Marina no encontro da Globo.

Lembrando a velha metáfora do boxe, onde reinaram Muhammad Ali e Mike Tyson, Aécio entrou com sangue nos olhos e, apesar de sua postura ardilosa e historicamente udenista, aliado à extrema direita representada por Pastor Everaldo, ele se destacou com um discurso direto e objetivo.

Nos bastidores do PT, existe a discussão sobre quem seria o adversário mais difícil no segundo turno. Uns acham que seria Marina, mas mesmo para esses parece que vai ficando claro que Aécio vai ser mais complicado de enfrentar.

Porque Aécio é mais coerente do que Marina, tem mais estrutura político-partidária, aglutina de forma mais consistente o ideário da direita, é mais difícil de ser desconstruído, tem mais condições de estabelecer interações com as forças políticas que Marina, presa à armadilha que construiu a si própria com o mantra da "nova política", tenta agora tardiamente conquistar, além de reconquistar o eleitorado que havia ganhado e perdeu, para Dilma e Aécio, tarefa quase impossível numa eleição.

As circunstâncias desconstruíram Marina, como Michel Temer previu. Consiga ela ou não passar ao segundo turno.


terça-feira, 30 de setembro de 2014

Marina Silva e as circunstâncias



Até Hulk
No início de setembro, o vice-presidente da República, Michel Temer (PMDB), candidato à reeleição ao mesmo cargo este ano na chapa de Dilma Rousseff, foi perguntado numa coletiva sobre a então ascensão de Marina Silva e se a campanha dele e da presidente iriam atacar a adversária do PSB. A resposta, digna de uma velha raposa da política, foi a seguinte: “Não vejo necessidade (de atacar Marina). Acho que a desconstrução eventual dela pode ser feita por outras pessoas, pelas circunstâncias. Na política é assim. As circunstâncias vão mostrando o que é melhor para o país”.

Pouco mais de três semanas depois, muitas circunstâncias concorreram para a desconstrução da candidatura de Marina Silva, inclusive, e talvez principalmente, ela própria, com suas idas e vindas, suas contradições, suas alianças obscuras e seus recuos, seu programa de governo que, para justificar mudanças súbitas, ela disse que é um "programa em movimento". A questão da CPMF é só mais uma das já quase incontáveis “circunstâncias” previstas por Temer.

Os recuos quanto ao casamento gay, a energia nuclear, o agronegócio, a ingênua tentativa de dizer que votou a favor da CPMF em 1995 (quando votou “não”) e as hesitações, que diante da câmera, num debate, são terríveis a uma candidatura, foram algumas dessas circunstâncias. Até chegar à quase cômica situação desta segunda-feira, quando a campanha da candidata, que desde domingo comemorava o apoio do ator Mark Ruffalo (o Hulk), que gravara até um vídeo por Marina, teve de engolir o próprio ator retirar seu apoio. “Descobri que a candidata à Presidência do Brasil, Marina Silva, talvez seja contra o casamento gay. Isso me colocaria em conflito direto com ela”, escreveu Ruffalo no Tumblr.

E Aécio Neves pode mesmo virar o jogo pra cima de Marina. Hoje, o assessor de um importante dirigente do PT me disse que pesquisas internas do partido estão mostrando empate técnico entre o tucano e a ambientalista. Essa tendência será confirmada? A conferir. Faltando cinco dias para a eleição, é cada vez mais possível que a ex-favorita doutora em “Nova Política” seja rebaixada ao mesmo terceiro lugar de 2010 justamente por praticar a velhíssima “velha política”, com o perdão do pleonasmo.  

A “velha política” de Marina, além de velha, demonstrou-se amadora, vacilante e falsa. Ela vem despencando vertiginosamente em todas as classes sociais e demais filtros das pesquisas, e em todas as regiões do país. 

terça-feira, 11 de junho de 2013

Blitz evangélica contra o Estado laico, a cidadania, as mulheres e a ciência



A garantia do Estado laico obsta que dogmas de fé determinem o conteúdo de atos estatais. Concepções morais religiosas, quer unânimes, quer majoritárias, quer minoritárias, não podem guiar as decisões estatais, devendo ficar circunscritas à esfera privada.” (Marco Aurélio Mello, ministro do STF, em julgamento que autorizou o aborto em casos de anencefalia)


Reprodução
A ciência também está na mira da blitz evangélica
É com justa indignação que todas as pessoas preocupadas com cidadania, estado laico e conceitos afins devem encarar a atual conjuntura, embora não seja, para mim, crível que um projeto com o teor obscurantista e medieval do tal Estatuto do Nascituro venha a vigorar no país.

Até porque, no limite, o Supremo Tribunal Federal deve fazer valer seu “poder de veto”, digamos assim, já que há pouco mais de um ano a corte convalidou o estado laico e o direito da mulher ao autorizar o aborto em casos de anencefalia.

No voto que proferiu no julgamento citado, o ministro Marco Aurélio argumentou: “O ato de obrigar a mulher a manter a gestação, colocando-a em uma espécie de cárcere privado em seu próprio corpo, desprovida do mínimo essencial de autodeterminação e liberdade, assemelha-se à tortura ou a um sacrifício que não pode ser pedido a qualquer pessoa ou dela exigido”.

Será meramente o medo de perder votos diante de argumentos moralistas desprovidos de qualquer senso científico o que cala o governo Dilma diante da atual blitz evangélica? A chamada bancada evangélica conta com 70 deputados e 3 senadores. Corresponde a 13,6% dos 513 deputados, 3,7% dos senadores e 12,2% do conjunto do Congresso Nacional. O silêncio do governo e de seus principais líderes diante do avanço pentecostal é um mistério matemático.

Politicamente, o cálculo político do governo e da chamada esquerda pode estar se equivocando gravemente, como aconteceu na “omissão ou leniência” do PT, como me disse o deputado Chico Alencar (PSOL-RJ) outro dia, que redundou na “tomada” pelos parlamentares de Cristo da Comissão de Direitos Humanos e Minorias na Câmara.

O monstro chamado Estatuto do Nascituro é a contra mão de tudo o que vem acontecendo no mundo, apenas para ficar no exemplo mais recente. Como lembram organizações feministas em petição divulgada contra esse projeto espúrio, ele “amplia a criminalização do abortamento para as situações que hoje são permitidas por lei”. Até mesmo as mulheres que têm o direito ao acesso ao aborto previsto em lei seriam criminalizadas: nos casos de risco de vida, de estupro e de fetos anencéfalos, que o Supremo Tribunal Federal considerou constitucionalmente válido há pouco mais de um ano.

“O projeto torna a maternidade compulsória mesmo para as vítimas de estupro que serão obrigadas a suportar a gravidez resultante do crime”, lembra a petição. “A situação é especialmente preocupante considerando o grande número de crianças e pré-adolescentes grávidas em decorrência de abuso sexual”. 

“O projeto obrigaria vítimas de pedofilia a suportar gestações que, além de traumáticas, são de alto risco, pois seus corpos não estão completamente formados. É uma situação análoga a da tortura, tratamento cruel, desumano e degradante”, continua a petição das feministas.

Quem tiver a curiosidade de acessar a íntegra do projeto na Câmara dos deputados verá que ele reza no parágrafo único do artigo 2°: “O conceito de nascituro inclui os seres humanos concebidos in vitro, os produzidos através de clonagem ou por outro meio científica e eticamente aceito”. Ou seja, até mesmo as pesquisas com células tronco, também já autorizadas pelo Supremo, seriam banidas.

É algo definitivamente assombroso o parecer Comissão de Finanças e Tributação da Câmara aprovado na semana passada. Parecer, lembremos, do líder do PMDB na Câmara, Eduardo Cunha, do Rio de Janeiro.

Segundo a deputada Érika Kokay (PT-DF), uma das poucas que têm se manifestado, “eles fazem parte de uma articulação para a construção de um projeto de poder baseado num estado onde uns podem amar, outros não; uns têm direito, outros não. Tomaram a comissão [de Direitos Humanos] para a construção desse projeto”.

Não acho que chegue a tanto. Mas seguro morreu de velho. "É preciso estar atento e forte."



sexta-feira, 12 de outubro de 2012

São Paulo deve eleger Fernando Haddad


Enquanto o candidato petista, com 12% de vantagem nas pesquisas em votos válidos, recebe a adesão do PMDB de Gabriel Chalita e herda a maior parte dos votos de Russomanno, o tucano ganha o apoio de PTB e PDT e declarações homofóbicas do pastor Malafaia


A eleição em São Paulo está longe de se definir. Mas a eventual vitória de Fernando Haddad já pode ser vislumbrada no horizonte. Se vier a acontecer, será uma resposta histórica e inédita das urnas ao lacerdismo golpista redivivo que assola o Brasil, amparado pelo circo do julgamento do “mensalão” a fornecer manchetes cotidianas à mídia, que, por sua vez, infelizmente para ela e felizmente para o Brasil, vê sua prepotência reacionária malograr diante das mesmas urnas que julga poder influenciar.

                                                                                        Divulgação
Gabriel Chalita e o PMDB declaram apoio a Haddad na quinta, 11

As boas notícias para a candidatura Haddad se sucederam nos últimos dias, a começar da eleição de domingo, quando ele, que nunca havia chegado ao segundo lugar nas pesquisas do instituto da família Frias, teve 1.776.317 votos (28,98%), contra 1.884.849 (30,75%), diferença de pouco mais de 100 mil votos.

A segunda ótima notícia foram as primeiras pesquisas do segundo turno dando de dez a onze pontos de vantagem de Haddad sobre Serra. Se estiverem corretas, são uma boa vantagem, mas não se pode achar que já ganhou. Isso porque, sendo apenas dois candidatos, a cada ponto que Serra tirar, a diferença cai em dobro. No Ibope, Haddad lidera com 48% a 37% e, em votos válidos, por 56% a 44%, 12 pontos de dianteira nos votos válidos. Então, Serra teria de subir seis pontos sobre Haddad, que cairia seis e a disputa estaria empatada. Mas é uma tarefa inglória para o tucano.

Inglória pelo cenário todo, que favorece o crescimento ou pelo menos a manutenção da liderança do petista.

1) O “grande acordo” (palavras do vice-presidente da República Michel Temer) entre PT e PMDB anunciado ontem e a entrada na campanha de Gabriel Chalita é um fator fundamental. Claro que a transferência de votos não é automática.

Mas o acordo histórico que PMDB e PT não conseguiam fechar em São Paulo desde 2004 é politicamente relevante e isola Serra – que já tem uma rejeição estratosférica – ainda mais. No anúncio, Temer ressaltou que seu partido e Chalita apoiarão a campanha petista "fortemente". Já o tucano conseguiu o minguado apoio do PTB e do PDT. Com a “neutralidade” do PRB e de Russomanno, a tendência é de que os votos deste sejam majoritariamente do PT: segundo o Datafolha, entre os que declaram ter votado em Celso Russomanno (PRB) no primeiro turno, 56% dizem preferir Haddad e apenas 25% Serra.

2) Enquanto o apoio de Chalita deve facilitar que milhares de votos católicos migrem para Haddad, Serra usa o pastor pentecostal Silas Malafaia, um homofóbico fundamentalista (ou seja, “o submundo da política”, nas palavras de Haddad), para atacar o candidato do PT. Malafaia usou o “kit gay” como tema de seu perfil no Twitter, dizendo anteontem: “Neste segundo turno em SP, vote em Serra 45. Haddad é autor do kit gay!”

Na coletiva de ontem, quando o PMDB anunciou o apoio ao PT, Haddad foi perguntado sobre os ataques moralistas de Serra e o pastor e deu sua resposta: “Espero que possamos fazer um debate pela cidade, deixar de lado essa coisa de 'eu arrebento’ (...) Ele [Serra] trouxe do Rio um pastor pra me ofender. Se ele continuar fazendo isso, eu posso responder também. Vamos ter vários debates. Se ele quiser pontuar nisso num debate, ele pode fazer, se for do interesse dele, mas eu não posso responder ao submundo da política (...), se ele quiser pautar o debate sobre tolerância, intolerância, estou disposto a conversar. Mas tem que ser ele. Não pode ser por um preposto”, disse Haddad.

PT no Brasil

Com “mensalão”, Supremo Tribunal Federal e manchetes diárias e tudo o mais, o PT foi o partido mais votado no país no primeiro turno das eleições municipais: somou 17,3 milhões de votos (4,2% a mais do que em 2008). O PMDB foi o segundo, com 16,7 milhões de votos, mas caindo 10% em relação à eleição anterior.

Já o PSDB, aliado do “mensalão” e do ministro do STF Joaquim Barbosa, caiu em relação a 2008 e teve 13,9 milhões de votos nas eleições de domingo, contra 14.6 milhões em 2008, queda de 4,8%.

O PT conquistou um total de 624 prefeituras, 12% a mais do que as 558 em 2008. Número que vai aumentar, já que o partido ainda disputa 22 prefeituras no segundo turno.

Grande SP

O mais simbólico de tudo aconteceu em Osasco. Lá, onde o PT precisou substituir às pressas o candidato João Paulo Cunha, condenado na Ação Penal 470, o “mensalão”, o povo respondeu elegendo Jorge Lapas. Ironia do destino, o tucano Celso Giglio, que tinha sido impugnado pelo TRE-SP por unanimidade, viu ontem o TSE confirmar também unanimemente (7 a 0) a decisão do tribunal paulista e o petista Lapas é o novo prefeito da cidade. Se Haddad ganhar na capital, será uma vitória mais do que espetacular e histórica.

São Paulo e Osasco, com 11,3 milhões e 700 mil habitantes respectivamente, poderão pela primeira vez na história governar juntas com governos populares, revolucionar a região oeste da Região Metropolitana de São Paulo.

Em São Bernardo, Luiz Marinho se elegeu no primeiro turno com 65.79% dos votos, dois terços do eleitorado.

Em Carapicuíba, o prefeito petista Sérgio Ribeiro ganhou de lavada.


Veja Fernando Haddad e Gabriel Chalita no encontro em que o PMDB anunciou seu apoio à candidatura petista, na quinta-feira, 11, no escritório político de Michel Temer, e entrevista de Chalita:



*Atualizado às 02:20