domingo, 29 de março de 2015

Com Edinho Silva e Janine Ribeiro, Dilma decepciona de novo e coloca nomes fracos em pastas vitais


Não quero jogar água no chopp de ninguém, mas os dois ministros anunciados pela presidente Dilma Rousseff, para a Secom (Edinho Silva) e Educação (Renato Janine Ribeiro), deixam muito a desejar. Nada contra qualquer um dos dois pessoalmente.

Foto: Maurício Garcia de Souza/ Alesp
Mas, começando por Edinho Silva, Dilma tinha vários nomes melhores para a Secom. A impressão é de que preferiu nem olhar para possibilidades. Dois nomes que me ocorreram, entre outros: o próprio André Singer (ex-secretário de Imprensa do Palácio do Planalto e ex-porta-voz da Presidência da República de Lula) ou o deputado Alessandro Molon (que foi relator do Marco Civil da Internet num processo de enormes dificuldades políticas e se saiu vencedor).

Mas Dilma preferiu mais uma vez ficar com o neutro, a não-notícia e a perspectiva de que tudo continuará como dantes no quartel de Abrantes, ou melhor, na Secom. A presidente podia ter dado uma cartada mais ousada, mas não deu. Preferiu nomear alguém que pode controlar, e que além de tudo foi seu tesoureiro de campanha e por isso pode até se tornar um telhado de vidro.

Edinho Silva é um "pragmático" do PT, postura que muitos consideram responsável por ter levado o partido à situação de crise de identidade atual.  Em relação às demandas ligadas à Secom (como verbas publicitárias federais) ou alguma melhoria na atuação da pasta, poucas perspectivas de mudanças.

Muitos comemoraram a indicação de Renato Janine Ribeiro para a Educação, mas a escolha de Dilma é bem pior do que se poderia esperar ou do que muitos acham. Ele não tem traquejo político, tem uma visão muito teórica (portanto, pouco prática) das coisas de Estado, não tem a menor experiência em cargos executivos nem remotamente próximos a um ministério e está muito longe do que se poderia almejar por uma "pátria educadora". Mais do que isso, seu pensamento às vezes é ambíguo e confuso politicamente.

Foto: Tatiana Ferro
Eu o entrevistei no ano passado antes das eleições para a RBA. Vejam o que ele disse quando perguntei sobre o que esperava de um segundo governo Dilma, e pedi para ele comparar os então possíveis nomes de ministeriáveis da presidente, de Marina e de Aécio Neves:

"A Dilma é muito centralizadora, trata os próprios ministros de maneira muito dura e dá pouca autonomia a eles. Isso não funciona (...) Mesmo os ministros dela com histórico brilhante, como Celso Amorim, um dos principais do Lula, no governo Dilma ficam apagados, você mal ouve falar. Não que a equipe ministerial de Aécio seja politicamente melhor, mas você tem pessoas de luz própria. Nesse caso, Dilma, de certa maneira, inibe a gestão."

É correta a avaliação de Janine Ribeiro de que Dilma – extremamente centralizadora – prefere ministros fracos que pode controlar com sua mão de ferro. Mas, já que ele acha (ou achava) isso, eu perguntaria hoje ao novo ministro da Educação se ele se considera um ministro com luz própria ou não, para usar um termo dele mesmo.

E, continuando na mesma entrevista o mesmo tema de possíveis ministérios, disse ele sobre Armínio Fraga e a ameaça aos direitos sociais representada pelo então futuro ministro da Fazenda de Aécio Neves, se este ganhasse a eleição:

É a tese (de que Armínio ameaçava direitos sociais) de quem é contra o Armínio, mas o que Armínio quis dizer não é que eles querem reduzir os salários, mas acha que a economia não sustenta aumentos reais de salário daqui para a frente. Eu não vejo no lado dos candidatos mais à direita nenhuma intenção deliberada de acabar com conquistas sociais. Eles têm uma série de propostas políticas que de fato podem colocar conquistas sociais em risco, sim. A ideia de flexibilizar o mercado de trabalho que aparece com a Marina, é claro que reduz os possibilidades de os assalariados negociarem. Mas é uma coisa que faz parte da ideia de que o próprio trabalhador vai ser prejudicado se a economia entrar em recessão (com a atual política do governo federal). Nesse sentido não acho necessário supor que o outro lado tem má-fé, que está querendo espoliar os trabalhadores.”

Preciso dizer mais sobre o pensamento político ambíguo de Janine Ribeiro? Me parece que seu raciocínio reflete claramente a postura de quem se coloca à disposição de qualquer um que ganhasse a eleição.

sexta-feira, 27 de março de 2015

segunda-feira, 23 de março de 2015

O Brasil do lulismo, segundo André Singer


                                                                             Foto: Eduardo Maretti


A crise vivida pelo governo Dilma Rousseff no início do seu segundo mandato, os desafios do PT decorrentes de ter se afastado das bases e do “caráter politizador” que tinha nas origens, a frustração causada no eleitorado da presidente por ter adotado soluções como o ajuste fiscal, que contradizem a plataforma de campanha, o ódio ao PT por parte de setores significativos da chamada elite. 

Esses são alguns dos temas comentados pelo cientista político André Singer, que entrevistei para a RBA na semana passada. Para Singer, ao iniciar o 13° ano no poder, com a presidente Dilma Rousseff, o lulismo enfrenta seu maior desafio, assim como o PT do ex-presidente e da atual chefe do Executivo brasileiro.

Ex-secretário de redação da Folha de S. Paulo, ex-secretário de Imprensa do Palácio do Planalto e ex-porta-voz da Presidência da República no primeiro governo Lula, Singer fala também do conceito de realinhamento eleitoral, “elaborado nos Estados Unidos para designar a mudança de clivagens (divisões) fundamentais do eleitorado”, que aborda em seu livro Os Sentidos do Lulismo (2012, Cia. Das Letras).

Veja alguns trechos da entrevista e, abaixo, os links para a íntegra.

Esquerda e eleições

A esquerda não disputa eleições só para ganhar. É claro que também para ganhar. Mas ela disputa para educar, para politizar a população. Para mostrar que existe um programa alternativo àquele da classe dominante que pode ser implementado, e ganhar apoio para esse programa.

(...) A transformação social que vem ocorrendo, de 2003 para cá, não foi acompanhada de uma ação pedagógica. O PT abriu mão do seu caráter politizador.

Governabilidade, PMDB, Congresso

A aliança com Sarney é anterior a 2005. Em 2005, o que ocorre é uma tentativa de aliança com o conjunto do PMDB. Tenho dito uma coisa desde 2007 que vou repetir aqui: alianças parlamentares para a manutenção da governabilidade são justificáveis. Porque o governo, qualquer governo, chega ao Executivo e tem que dialogar, ter uma relação produtiva, digamos assim, com o Parlamento. Ele não pode escolher o Parlamento, que é escolhido pela sociedade. É preciso respeitá-lo e negociar com ele. Os pactos parlamentares que dão sustentação a uma ação executiva são justificáveis, desde que a política do Executivo seja justificada. E acho que as políticas do Executivo brasileiro desde 2003 para cá foram políticas sociais importantes. Foi feito um combate efetivo à extrema pobreza, à miséria, houve uma redução da desigualdade.

Se para isso foi necessário se estabelecerem determinadas alianças parlamentares, foi um preço a pagar para se lidar com a realidade. E esse preço que foi pago produziu frutos reais, avanços reais na direção de um programa de maior igualdade, que é um programa de esquerda. Agora, essas alianças não deveriam se transformar em alianças eleitorais. Quando se transforma isso em uma aliança eleitoral, você não se apresenta para o eleitorado com cara própria.

Economia e ajuste fiscal - Dilma Rousseff

Primeiro mandato - O governo Dilma, no primeiro mandato, foi muito corajoso, entre meados de 2011 e final de 2012, tentando alavancar a economia com industrialização e distribuição de renda. Para fazer isso, ela adotou o que eu chamo de ensaio desenvolvimentista. Talvez tenha sido, durante todo o período do lulismo, o mais nítido ensaio desenvolvimentista que ocorreu na política econômica. Os juros foram reduzidos para um patamar de 2% reais ao ano, não nominais, que é uma aproximação importante da taxa de juros internacional. Houve uma política de controle cambial, e simultaneamente de investimento público por meio do PAC. Naquele momento houve uma transformação do chamado tripé macroeconômico neoliberal.

Segundo mandato - Certamente existiria (alternativa ao ajuste fiscal e à política econômica adotada por Dilma no segundo mandato). Insistir em reativar a economia brasileira e resolver o problema dos gastos públicos por meio do aumento de receitas que adviria da própria reativação da economia.
O que aconteceu, por razões que eu não compreendo muito bem, é que a presidente Dilma resolveu fazer uma campanha dizendo isso (apontando para uma política desenvolvimentista). E acabou sendo eleita com essa plataforma. Foi uma eleição apertada, e nesta diferença pequena que se consolidou no segundo turno esse discurso teve um papel de catalisador, que animou muita gente a ir pra rua fazer campanha. 

Hoje, em face do que está acontecendo, eu digo que foi um erro. Se ela não tinha a avaliação de que poderia desenvolver essa política, não deveria ter feito a campanha nesses termos, porque a mudança entre o que se diz o que se faz, em termos eleitorais, cobra um preço muito alto. O eleitorado costuma não perdoar esse tipo de mudança. Criou-se uma expectativa de uma política diferente e uma certa base política para uma outra tentativa de reativar o crescimento que, no meu entendimento, é o que foi prometido explicitamente na campanha. Agora, se existe uma avaliação de que as medidas necessárias para isso seriam medidas que não teriam base política, isso tem que ser explicado para a sociedade, para o eleitorado e também para a militância que apoiou essa proposta.

Íntegra da entrevista

Leia também:

quarta-feira, 18 de março de 2015

Crônica do absurdo por excelência


 "No Brasil, o absurdo perdeu a modéstia" (Nelson Rodrigues)

Por Jean Wyllys 


Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados
A Folha de São Paulo publicou ontem pesquisa do Data Folha acerca da estima popular em torno do Câmara Federal. Segundo essa pesquisa, apenas 9% dos brasileiros entrevistados consideram os parlamentares "bons". Mais da metade considera o Parlamento "péssimo".

Qualquer pesquisa rasa em postagens e comentários nas redes sociais ou qualquer conversa de botequim mostra o que a maioria ou a média dos brasileiros e brasileiras pensa do Parlamento (e, por extensão, da política): lugar de aproveitadores egoístas e de "bandidos" interessados em enriquecer por meio do Erário (se levarmos em conta a postura da bancada de fundamentalistas religiosos, há pessoas que acham que o Parlamento só reúne ignorantes obscurantistas e analfabetos políticos).

A Operação Lava Jato - que investiga um pesado e antigo esquema de corrupção na Petrobras, envolvendo empresários e políticos - indiciou, por enquanto, duas dezenas de parlamentares, alguns destes assumindo posições na Mesa Diretora da Câmara e dois deles - Cunha e Renan Calheiros - presidindo as casas legislativas (sendo que o que preside a Câmara Federal é alvo de outros tantos processos por corrupção).

Todos assistimos, na tevê, a escândalos de corrupção envolvendo parlamentares e a chantagens de políticos contra o governo federal a fim de adquirir mais ministérios e outros privilégios. E vimos, no Youtube, um parlamentar em atividade pedir a senha do cartão de crédito de um fiel de sua igreja como dízimo.

Todos os dias, há parlamentares no Plenário da Câmara resvalando na baixaria; em ofensas impublicáveis uns contra os outros. Alguns deles recorrem ao seu machismo para ofender a presidenta da República. Um deles já chamou Dilma Rousseff de "sapatão" (não como elogio!) e disse que só não estupraria uma colega deputada pelo fato de ela ser "feia".

A Corregedoria da Câmara e o Conselho de Ética arquivam a quase totalidade das representações que lhes são apresentadas contra os deputados, num flagrante e vergonhoso corporativismo.

Ou seja, a Câmara Federal está - e sempre foi - desqualificada em função muito mais de seus próprios parlamentares.

Porém, em vingança por ter sido denunciado pelo Ministério Público Federal ao Supremo Tribunal Federal em razão de seu possível envolvimento na corrupção da Petrobras, Eduardo Cunha e o baixíssimo clero que lhe deu a presidência da Câmara e vem sustentando seus desmandos decidiram que o que "desqualificou" o Parlamento foi a frase infeliz - mas não de todo falsa! - do ministro da Educação Cid Gomes, segundo o qual haveria mais ou menos 400 "achacadores" na Câmara.

Eduardo Cunha et caterva decidiram fazer tempestade em copo d'água com a frase de Cid Gomes porque acham que o possível envolvimento de Cunha no esquema de corrupção da Petrobras vazou à imprensa graças ao Palácio do Planalto.

Cunha et caterva conseguiram convocar o ministro Cid Gomes para uma Comissão Geral que se encerrou agora há pouco da pior maneira possível para a Câmara Federal (a demissão do ministro comunicada há pouco também não causa surpresa, já que sua postura era a de quem veio preparado para a batalha, e não para fazer média com seus detratores - ele pediu desculpas àqueles em cujas cabeças não caiu a carapuça; e eu o desculpei, pois jamais me senti ofendido, já que não sou achacador ).

O que se viu aqui foi um espetáculo grotesco: uma Comissão Geral transformada num tribunal de exceção, em que Cid Gomes era espinafrado pela maioria dos líderes partidários e em que o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, comportava-se como o dono do brinquedo de uma classe de quinta série do ensino fundamental (nem o nome do ministro ele pronunciava, virando sua face rubra de raiva para o lado - o que lhe deixava ainda mais patético!).

O ápice do freak show se deu quando o deputado Sérgio Sveiter (PSD-RJ), aos berros, chamou Cid Gomes de "palhaço" - na verdade, ele disse que o ministro estava fazendo papel de "apalhaço" ao tentar se desculpar - e este reagiu, exigindo respeito. Eduardo Cunha - longe da postura de um presidente do poder legislativo - cortou o microfone de Cid Gomes, que acabou fazendo aquilo que qualquer pessoa com dignidade faria: retirou-se da comissão e foi embora.

Respondam-me: quem se sente representado por essa gente?


segunda-feira, 16 de março de 2015

Manifestações da direita e o simbolismo da “selfie” com a PM



Caio Pallazo/Ponte/Jornalistas Livres


As manifestações de domingo trouxeram em suas faixas e cartazes algumas pérolas do analfabetismo político e do caráter antidemocrático que tem o movimento. Pelas redes sociais podemos ler barbaridades, escritas por um estrato da população que se julga mais bem educado e informado, mas sofre de um atraso e provincianismo impressionantes.

Mas quero destacar aqui uma das cenas que mais me surpreenderam: a fila para tirar fotos e "selfies" com a polícia militar, principalmente com a Tropa de Choque. Aliás, nas últimas manifestações da direita essas são duas características simbólicas: os afagos à PM e a indefectível camisa da (corrupta) CBF, para demonstrar um falso patriotismo de quem prefere ir a Miami do que à Bahia.

Tietar a PM em uma manifestação diz tudo sobre o tipo de gente que participa daquela marcha. Resquício da ditadura militar, as polícias militares são responsáveis pelo genocídio da população pobre e negra. Só quem ignora isso pode ter como ídolos estes homens de farda. A polícia de São Paulo, particularmente, é conhecida pela repressão desmedida aos protestos de rua, mas, é claro, apenas os promovidos pela parte progressista da sociedade. Para quem ocupa as ruas para clamar por moradia, contra os latifúndios e por melhores salários para os professores, cassetetes e bombas de gás lacrimogênio.


A PM de Alckmin, como apresenta em relatório final a Comissão da Verdade paulista, "tem uma organização e formação preparada para a guerra contra um inimigo interno e não para a proteção. Desse modo, não reconhece na população pobre uma cidadania titular de direitos fundamentais, apenas suspeitos que, no mínimo, devem ser vigiados e disciplinados". De acordo com a Anistia Internacional, a polícia brasileira matou, em média, seis pessoas por dia em 2013. No ano anterior foram 30 mil jovens brasileiros mortos, sendo 77% deles, negros.

Os que estavam ali na fila para a foto com a PM não só chancelam as chacinas promovidas pela PM, mas também querem dizer: "continuem nos protegendo desses baderneiros, pau neles!". Quando assistem à desocupação violenta de terrenos e prédios ocupados pelos sem-teto, aplaudem. Aquilo representa o tipo de sociedade em que desejam viver.

domingo, 15 de março de 2015

Um drone na avenida Paulista


Um drone sobrevoa a manifestação das organizações de esquerda a favor do Brasil, contra o golpe, pela reforma política, pela democracia e pelo direitos dos trabalhadores na Avenida Paulista, em São Paulo, na sexta-feira, 13. O drone seria de quem? Da TV Globo? Da CIA? Ou de ambas? (Perguntar não ofende.)


Fotos: Carmem Machado [Clique nas imagens para ampliar]


Foto: Renato Stockler/Jornalistas Livres (Detalhe)

sábado, 14 de março de 2015

Sexta-feira, 13: dia de terror para os poderosos



Foto: Mídia NINJA (clique para ampliar)

As forças sociais que elegeram a presidente Dilma Rousseff reuniram-se na sexta-feira, dia 13 de março, pela primeira vez desde o início deste segundo mandato presidencial para exigir a reforma política, defender a democracia, os direitos dos trabalhadores (atacados pelo ajuste fiscal promovido pelo pacto de governabilidade), a Petrobras e o Pré-Sal.

Um ato de luta, que exigiu o respeito ao mandato das urnas.

No mesmo dia, há 51 anos, o presidente trabalhista João Goulart, também enfrentando uma oposição feroz, realizou o Comício da Central do Brasil, no Rio de Janeiro. Diante de uma multidão de 150 mil pessoas, o próprio Goulart discursou em favor das chamadas Reformas de Base (reformas agrária e urbana), e do direito de voto para analfabetos e soldados. Como demonstração da centralidade da Petrobras desde então, Goulart assinou decreto de desapropriação de refinarias de petróleo que ainda estavam de posse da iniciativa privada.

Mas as semelhanças param aí. Nos atos públicos realizados neste ano em 24 cidades e no Distrito Federal, Dilma Rousseff não foi. Seus ministros tampouco. E contavam-se nos dedos os dirigentes do Partido dos Trabalhadores que deram as caras. Entre as honrosas e aclamadas exceções estavam o ex-senador Eduardo Suplicy e o ex-deputado estadual Adriano Diogo, para o qual o partido precisa voltar para o campo das lutas populares.

Foi resultado da coragem dos dirigentes da Central Única dos Trabalhadores, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, da União Nacional dos Estudantes, dos movimentos de moradia, e de inúmeras outras organizações populares e de juventude, o grande reencontro da esquerda com sua vocação reivindicatória, expressa nos atos públicos realizados. Centenas de milhares de pessoas manifestando a disposição de lutar pelo aprofundamento da democracia e por mais direitos.

Desde o Palácio do Planalto, durante toda a semana, saíam recriminações aos atos do dia 13. Dizia-se que seria um fracasso, um tiro no pé, que acabaria dando munição aos defensores do impeachment, que demonstraria a fragilidade da base social do governo.

Mas foi bem diferente o que se viu...

O maior de todos os atos aconteceu em São Paulo, o Estado que deu esmagadora vitória ao candidato tucano Aécio Neves na última eleição presidencial, terra de bandeirantes e de preconceitos, mas também berço do Partido dos Trabalhadores, do movimento estudantil e das greves operárias dos anos 1970/80, que ajudaram a derrubar a ditadura e a reconquistar a democracia.

Na avenida Paulista, 100.000 pessoas (segundo a CUT) e 41.000 (segundo o DataFolha) vestiram-se de vermelho debaixo de céu preto e ameaçador. Não demorou e a tempestade desabou. Mas aí foi que a festa começou.

 “Pode chover, pode molhar, ninguém segura a resistência popular”, gritavam os manifestantes. Ninguém arredou pé.

Foto: Jornalistas Livres

Para a militância, que passou o último mês encolhida –humilhada pelas denúncias de corrupção envolvendo dignitários petistas e gente de todos os partidos, foi uma apoteose. O MST apareceu com seus homens e mulheres de rostos tostados de sol, os professores vieram depois de decretar greve em assembleia realizada no vão livre do Masp. Os metalúrgicos, os sambistas da Rosas de Ouro, os negros, os cotistas, os moradores de rua. Os jovens do Levante Popular da Juventude.

 “A mídia golpista quase fez a gente acreditar que estava derrotada, mas a gente está firme e forte e não vai permitir que o Brasil seja tomado de assalto pelos ricos e poderosos”, disse a dona de casa Eurides Camargo de Souza, 65 anos, enrolada em uma bandeira do PT que ela mesma bordou em 1982, durante a primeira campanha eleitoral que teve Lula como candidato.

Muitos militantes portavam cartazes em que se lia #globomente e #globogolpista –aliás, a hashtag #globogolpista foi a campeã de citações no twitter, comprovando que até mesmo na guerra virtual, a esquerda retomou a iniciativa. Pela primeira vez em meses, hashtags identificadas com os movimentos sociais tiveram a maioria das citações nas redes sociais. “O povo não é bobo, abaixo a Rede Globo!”

Ficou até chato ver o repórter da Globo andando com capacete de guerra na avenida Paulista, entrando no Jornal Nacional. Para enfatizar o ridículo do equipamento de segurança, o próprio Jornal Nacional afirmava terem sido absolutamente pacíficos os atos realizados em todo o país.

Igualmente destoante foi a presença de 50 militantes do grupo de ultra-direita “Revoltados Online”, que se postou na avenida Paulista em clara atitude provocativa. Mas ninguém lhes deu ouvidos. E eles ficaram ali, com o farol baixo, gritando o seu “Fora Dilma” sem eco entre os transeuntes.

Na chegada à praça da República, as professoras Adriana e Sonia, encharcadas e exaustas, ainda tiveram forças saltar bem alto, na coreografia do “Quem não pula é tucano, quem não pula é tucano.” Na segunda-feira, as duas estarão em greve contra o governo Geraldo Alckmin (PSDB-SP) e por reajuste salarial.

É a luta que segue.

quarta-feira, 11 de março de 2015

A questão é: até que ponto a “revolta” financiada pela elite golpista vai contaminar a nação?


"Não há vítimas inocentes" (Jean-Paul Sartre)


Logo após o segundo turno de 2014, mais precisamente em 28 de outubro, estive numa coletiva do presidente do PT, Rui Falcão, da qual participou o deputado estadual Edinho Silva, tesoureiro da campanha de Dilma Rousseff, em que ele foi questionado sobre os porquês do fracasso eleitoral do partido em São Paulo, a vitória acachapante de Geraldo Alckmin no estado e a dificuldade do partido até mesmo nas periferias da grande São Paulo que historicamente são seus redutos.

Edinho elencou alguns fatores, como a falta da abordagem de temas regionais pela imprensa, a manipulação de informações relativas à agenda nacional que ocupa as manchetes diuturnamente, com denúncias de corrupção contra o PT, a legislação eleitoral (falta de reforma política) e a crise econômica. Mas me chamou a atenção um outro fator mencionado por ele na ocasião.

Ele citou o ótimo livro Os sentidos do lulismo, de André Singer, do qual se depreende um fato sociológico preocupante: constata-se que a população beneficiada pelos programas sociais e pela política dos governos do PT ascendeu socialmente nos últimos 12 anos – com todas as benesses que o mercado de consumo proporciona – sem que trouxesse (ou levasse) consigo os valores da solidariedade, ou a preocupação social com um país mais justo.

Em outras palavras, os milhões que sob Lula e Dilma conseguiram comprar carros, geladeiras, televisores, mais carros, computadores, celulares e outras dádivas do mercado de consumo, ascenderam socialmente, mas não incorporaram as premissas ideológicas que nortearam a opção do Partido dos Trabalhadores pelos pobres. Ainda que esta opção socialista-reformista (e não revolucionária, como muitos ingênuos exigiam e exigem) tenha beneficiado milhões de pessoas, esses milhões de pessoas chegaram a um patamar social apenas materialmente mais alto, já que continuaram deseducadas cultural e politicamente.

Cada cidadão desses milhões de pessoas não está pensando na possível evolução de seu vizinho como membro de uma comunidade, de um bairro, uma cidade, um estado ou um país. Não. Está pensando em ter um carro mais bonito e mais novo do que seu vizinho, um celular capaz de aguentar mais aplicativos, não mais um tênis de 100 reais, mas um de 300. Não pensam no seu quarteirão, no seu bairro, na sua cidade. Pensam em si mesmos, exatamente como a elite branca.

Os valores que carregaram consigo em sua ascensão foram os do individualismo disseminado nas novelas, nos programas de televisão canalhas, BBBs, a cultura fornecida pelas emissoras graças à concessão pública e às verbas publicitárias oficiais que pagam esse lixo.

Não quero dizer que apenas a televisão e sua ideologia, com suas denúncias e sua práxis inspirada em Goebbels, devam ser as causas do que está acontecendo. Mas o golpismo encontra terreno fértil para proliferar nesse deserto ideológico habitado por uma população ávida por consumo, mas que já não se satisfaz apenas com ele e não tem consciência do que lhe falta. É triste.

Mais ainda, numa conjuntura em que a opção pelo mercado interno já não funciona: o preço das commodities em queda não pode mais financiar a opção pelo consumo que foi a mola do sucesso econômico do governo Lula, e além disso a economia está se desindustrializando.

De resto, é essa população aparvalhada pelo consumismo cada vez mais difícil, sem valores sociais, sem solidariedade, o que realmente mais assusta no Brasil de 2015, mais ainda do que o Brasil que emerge sob as badaladas golpistas dos diferenciados que fazem panelaços de seus apartamentos em Higienópolis (que nome mais apropriado para um bairro!) e no Leblon.

Ouvi hoje de um pequeno empresário, dono de um “lava-rápido”, ou, ironicamente, um “lava-jato” (sic), um amigo de bairro, reclamações intermináveis sobre o país, “que nunca esteve tão difícil”, “nunca houve tanta roubalheira”, “assassinos de crianças ficam dez anos presos e são soltos”, “acho que sua amiga (ironia do meu “amigo”, referindo-se a Dilma Rousseff) não termina o mandato não”. Além de individualista, os homens e mulheres que compõem o povo têm ideias confusas e não têm memória.

Evidente que os governos petistas têm responsabilidade sobre esse aparente beco sem saída, esse estado de coisas. A aposta no consumo desenfreado (que alimenta a vaidade, mas não o espírito), um certo “dar de ombros” à necessidade de se educar a população mais pobre enquanto esta ascendia socialmente graças aos programas sociais, a falta de estratégias de comunicação eficientes, tudo isso agora está pesando enormemente na conta.

Resta esperar para ver até que ponto essa “revolta” financiada pela elite inescrupulosa e historicamente golpista deste país vai contaminar as camadas da população que têm votado no PT nos últimos 12 anos e, consequentemente, a nação. 

segunda-feira, 9 de março de 2015

‘Panelaço’ contra Dilma se restringiu a bairros ricos


Reprodução


As manifestações que aconteceram em algumas cidades brasileiras durante pronunciamento da presidenta Dilma Rousseff foram orquestradas para impedir o alcance da mensagem, mas fracassaram em seus objetivos.  A avaliação é do secretário nacional de Comunicação do PT, José Américo Dias, e do vice-presidente  e coordenador das redes sociais da legenda, Alberto Cantalice.

A comprovação do curto alcance do protesto veio pelas próprias redes. A hashtag #DilmadaMulher, em apoio à presidenta, tornou-se uma das mais usadas pelos internautas e entrou  para o trending topics do Twitter, durante a fala da presidenta em cadeia nacional de rádio e tevê.

O chamado “panelaço”, realizado por moradores de bairros de classe média , como  Águas Claras (DF),  Morumbi e Vila Mariana, em São Paulo, e Ipanema, no Rio, foram mobilizados durante o final de semana por meio das redes sociais, conforme monitoramentos do PT.

“Tem circulado clipes eletrônicos sofisticados nas redes, o que indica a presença e o financiamento de partidos de oposição a essa mobilização”, afirma José Américo.

“Mas foi um movimento restrito que não se ampliou como queriam seus organizadores”, completa.

O secretário avalia que apesar da intensa convocação e dos investimentos na divulgação do protesto, a mobilização não repercutiu nas áreas populares e perdeu o alcance.

Para Cantalice, a movimentação via internet tem ligações com outras reações ao governo, oriundas de setores que pretendem um golpe contra a atual gestão.

“Existe uma orquestração com viés golpista que parte principalmente dos setores da burguesia e da classe média alta”, define o vice-presidente.

Ele avalia que essas reações  são semelhantes às que estimularam as chamada  “Marchas da Família”, com o apoio da grande mídia, e se tornaram os baluartes do golpe que derrubou o presidente João Goulart.

“Hoje, reciclados, investem em novas formas de atuação buscando galvanizar os setores populares”.

O protesto dos moradores de áreas nobres foi ironizado na internet. O perfil do Facebook “Sem Panelaço” publicou levantamento no qual mostra que a manifestação se restringiu a poucos bairros de regiões ricas da capital paulista.

No Twitter, o panelaço virou piada. “Minha amiga agora: Aqui no Nordeste, nenhum panelaço. Acho que é porque não tem mais panela vazia por aqui”, postou Camila Moreno em seu microblog.

Ajustes - Durante pronunciamento em homenagem ao Dia Internacional das Mulheres, a presidenta Dilma defendeu o  ajuste fiscal, que vem sendo implementado pelo ministro da Fazenda,  Joaquim Levy.

Ela atribuiu a necessidade de ajustes à persistência da crise internacional e aos efeitos da seca que afeta as regiões Nordeste e Sudeste, tranquilizou a população e negou que o País viva um crise nas “dimensões que dizem alguns”.

Da Agência PT de Notícias